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Rovena Rosa/Agência Brasil

out 28, 2021 | destaques, notícias

Informação falsa e eleições – veja o que dizem os especialistas

Rovena Rosa/Agência Brasil
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O II Seminário Internacional Desinformação e Eleições – Disinformation and Elections, promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reuniu especialistas no tema para reunir dados, compartilhar experiências, colher sugestões e enriquecer o conhecimento geral sobre medidas viáveis de enfrentamento das notícias falsas.

 

Lawrence Lesssig

Professor da Escola de Direito de Harvard, autor de Code 2.0, entre outros                                                                   

Devemos reconhecer a ameaça que as plataformas representam para a sociedade e discutir a melhor forma de regular a atividade delas. A autorregulação não é suficiente para garantir informação confiável circulando. “Se existe alguma lição a ser aprendida com o caso do Facebook Papers é que entre lucro e  proteção, a empresa escolheu o lucro”.

O professor as definiu como poderosas máquinas de inteligência artificial com grande poder de manipulação priorizando o engajamento. “E a melhor forma de nos engajar é nos fazer estúpidos e raivosos. Ou seja, a própria desinformação é um mercado lucrativo para as empresas”.

O argumento da liberdade de expressão seria um erro porque a seleção realizada pelos algoritmos não pode ser vista como detentora de direitos. “Não podemos simplesmente deixar de regular, estaremos perdidos se não fizermos esta distinção (escolhas humanas e escolhas automatizadas)”.

O objetivo final deve ser tirar o pior das plataformas e torna-las seguras. Um requisito obrigatório deve ser a transparência, acesso aos dados e aos pesquisadores. Elas precisam demonstrar a segurança primeiro, antes de causar danos. Esta é a ideia a ser aplicada nos algoritmos.

 

Claire Wardle

Co-fundadora e diretora executiva da First Draft, organização para estudar a desinformação na Kenedy School/Harvard

Não estamos falando apenas de fake news, mas de desordem informacional. Isso é muito importante de entender para se combater o problema. Há muito conteúdo que aparenta ser verdadeiro. O ecossistema da desinformação é complexo e cria uma realidade paralela.

A recomendação é fazer uma moderação através de mensageiros confiáveis nas comunidades. Um modelo horizontal de moderação, não vertical, sobre o conteúdo. É melhor entender porque os rumores estão se espalhando, entender os medos das pessoas, ouvir mais, informar mais, não repetir as notícias falsas. Usar fontes confiáveis e não usar a informação para chocar.

Temos que equipar jornalistas e editores para evitar amplificar a desinformação. O modelo poderia incluir pesquisadores, organizações independentes e o governo para supervisionar através da legislação. É importante uma campanha pública para alertar para a desinformação. Esta é a maior crise que estamos vivendo, com impacto na democracia, no clima e na saúde das pessoas.

Patrícia Campos Melo

Jornalista na Folha de S. Paulo e autora de “A Maquina do Ódio – notas de uma repórter sobre fake news e violência digital”

Seguir o caminho do dinheiro. Entender o modo de financiamento das campanhas de desinformação é um dos caminhos para se combatê-la. O inquérito do STF no Brasil descobriu sobre a estrutura do que passou a chamar Gabinete do Ódio, de onde eram disparadas campanhas desinformativas.

Entender os veículos de comunicação que parecem veículos de comunicação mas são mídias hiperpartidárias, com conteúdos aparentemente noticiosos, mas que só ouvem um lado da história. Ter atenção ao Telegram, que não tem interlocução com autoridades e comporta grupos com 200 mil usuários e canais com milhões de pessoas.

 

Thiago Tavares

Diretor-presidente da SaferNet, organização que recebe denúncias de crimes na internet e realiza pesquisas nesta área  

As eleições servem de gatilho para o discurso de ódio. O crime de racismo corresponde a 28% das denúncias que recebem, mais de 2 milhões são relacionadas a crimes de ódio e 69% das denunciantes são mulheres.

Daniel Bramatti

Editor do Estadão Verifica e presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)

Vai haver ataque aos resultados das eleições de 2022 e espero que o TSE consiga barrar e que as plataformas tenham papel mais ativo, mais transparente, permitam acesso a dados internos e mecanismos de controle para pesquisadores.

Ao invés de focar em conteúdo específico de desinformação, devemos focar nos agentes e nas punições a eles. Ainda existe um sistema de incentivo a quem dissemina desinformação e isso precisa ser resolvido.

 

Luiza Bandeira

Pesquisadora e jornalista especialista em desinformação do Digital Forensic Research Lab (DFRL)

A vantagem em relação à eleição de 2018 é que já conhecemos a estrutura e ela mudou pouco, não tem surpresa. Nós e as plataformas já sabemos como funciona. Então podemos tomar medidas com antecedência.

 

Marco Aurélio Ruediger

Diretor na Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FV

Devemos pensar a desinformação sem viés partidário. Vemos desinformação e uso de bots em todos os campos políticos. A ideia é que tenhamos nas eleições uma estrutura com análise forense para ver o caminho da monetização dos influenciadores. Isso tem sido feito em grandes canais, mas precisamos atentar para o uso do recurso público.

Também ficar atentos para a desinformação que vem de fora do Brasil, que pode estar vinculada a determinados interesses. Isso não pode ser resolvido na ante-sala das eleições, precisa começar agora.

Tai Nalon

Diretora-executiva do Aos Fatos

As pessoas reproduzem desinformação por ideologia, dinheiro, notoriedade e muitas vezes estes fatores se sobrepõem. O projeto de lei da internet no Brasil, por exemplo, não pode focar no conteúdo do que é publicado, mas no comportamento coordenado.

Devemos responsabilizar autoridades, autorregular levando em conta a cultura local e ter uma lei que assegure política de dados estruturada, dados auditáveis por meio de APIs.

Devemos ter ferramentas asseguradas aos pesquisadores para auditar dados, fortalecer o ecossistema de checagem e pesquisa.

 

Laura Moraes

Coordenadora sênior da Avaaz

Redes sociais devem ser ágeis parceiras do TSE e dos checadores. Os algoritmos devem sair da busca do lucro e buscar um ambiente saudável para cidadania. Educação midiática é muito importante. A impunidade fere nossos direitos coletivos e abala a confiança na democracia.

 

Carlos Affonso Souza

Diretor do ITS Rio

A moderação de conteúdo precisa ser protegida para que nas plataformas haja um debate plural e diverso. Devemos buscar agilidade na moderação para um ambiente saudável nas redes.

 

 

 

 

 

 

 

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