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Marta Wave do Pexels

out 12, 2021 | notícias

Desinformação chega às crianças com roupagem de brincadeira e desafio

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Criança também é afetada pelas informações falsas?  A resposta é sim. Em faixas etárias diversas, mas desde muito cedo, a desinformação chega e provoca danos maiores que em adultos justamente pelos pequenos estarem em formação cognitiva, física, emocional e sociocultural.

Ainda que o acesso à internet seja inexistente ou precário para muitas famílias brasileiras, o contato com games perigosos ou os chamados “desafios” é cada vez mais frequente e precoce, segundo a diretora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana, Raquel Franzim.

As fake news chegam para as crianças envoltas em linguagem de brincadeira ou desafio o que as torna ainda mais difíceis de serem identificadas pelos pequenos. Franzim alerta para vídeos que circulam muito pelas redes sociais sem o devido tratamento e mediação das próprias plataformas e que colocam em risco a própria vida das crianças e que tem causado ferimentos, entre outros danos, como medo e ansiedade. “As regras das plataformas são insuficientes, pouco transparentes e não conseguem remover estes conteúdos”, alertou a educadora.

A pediatra e infectologista Renata Coutinho acrescenta que na primeira infância as informações falaciosas chegam de forma muito resumida e como uma verdade incontestável, o que traz riscos em todas as áreas para os pequenos.  Um exemplo simples e com impacto social relevante é a vacina. Quando a família decide não se vacinar, nem adolescentes nem crianças se vacinam e acreditam, desde pequenos, que esta é uma decisão individual, sem maiores consequências.

A mesma coisa é o uso de máscara, uma recomendação das autoridades sanitárias para contenção da Covid-19 e que foi bastante bombardeado por fake news. “Além do risco físico em si de contrair doenças (sem vacinas e sem a máscara neste momento), a criança cresce sem a noção de cidadania, do coletivo. É uma criança que cresce entendendo eu não quero pronto”, afirma Coutinho.

Outro aspecto importante é que as crianças estão cada vez mais sozinhas em contato com o ambiente digital, sem mediação de adultos. Seja porque estão assistindo uma aula online ou um vídeo no Youtube naquele momento em que os pais estão trabalhando em casa e ela não tem a mediação presencial dos professores.

Franzim dá um exemplo interessante. “Imagine uma criança atravessando uma avenida, dependendo da sua idade, ninguém vai deixar ela atravessar sozinha. No digital, ela atravessa a avenida sozinha, muitas vezes, com a falsa sensação de segurança”.

Na adolescência, a necessidade de se distinguir dos pais e formar a personalidade pode levar os adolescentes a embarcarem em quaisquer informações enganosas apenas para se diferenciar da família. Neste momento, alerta a pediatra Renata Coutinho, o próprio adolescente faz o filtro e não tem maturidade para distinguir informações falsas que chegam em avalanche pelos canais de Youtbe e podcasts em linguagem jovem que muitas vezes os adultos desconhecem.

Educação Midiática

A Base Nacional Comum Curricular brasileira traz de forma tímida aquilo que seria essencial de ser tratado desde a primeira infância: a educação midiática. Segundo o portal online do BNCC, no ensino fundamental a criança deve ser capaz de analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo.

Entretanto, os termos fake news, desinformação, informação enganosa, análise de mídia, entre outros, só aparecem para os últimos anos do ensino fundamental, ou seja, para os adolescentes de 13 a 15 anos. “A base traz de forma tímida o uso crítico e ético das tecnologias digitais, os documentos precisam ser atualizados o tempo todo”, reforça a diretora do Instituto Alana.

Como abordar e quais as saídas

A pediatra Renata Coutinho defende uma educação que chama de artesanal, o estar perto de verdade, ter diálogo e disponibilidade para os filhos. Para os adolescentes, é ser aquele ombro amigo e sem julgamentos em que ele possa se apoiar e se abrir. “Valorizar as relações presenciais, sem mediação digital, é um caminho para se blindar das ciladas da informação”.

Franzim avalia que o fenômeno não será combatido de forma isolada. “De nada adianta educar crianças de forma crítica se as plataformas induzem a um comportamento violento, agressivo preconceituoso e discriminatório”, denuncia.

Todos os lados precisam cooperar. A conta já chegou.

 

 

 

 

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