Os rumores sobre uma demissão em massa no Twitter, apesar de desmentidos por Elon Musk dias antes de ele concluir a compra da plataforma, concretizaram-se. Desde a última sexta (4), estima-se que metade do quadro da empresa tenha sido mandada embora, de engenheiros de softwares a especialistas em segurança e moderação.
Diversos setores foram afetados. A agora ex-conselheira de Direitos Humanos da rede social, Shannon Raj Singh, usou seu perfil pessoal para comunicar que ela e todo o departamento de direitos humanos foram dispensados.
“Estou muito orgulhosa do trabalho que fizemos para implementar os princípios orientadores da ONU para proteger aqueles em risco nos conflitos e crises globais”, declarou a profissional.
A ex-conselheira de Direitos Humanos da empresa, Sara Oh, também comentou a própria demissão e o fim do departamento. Ao relembrar o que foi realizado pelos profissionais, Oh disse que “devemos permanecer vigilantes e adaptáveis: o terreno é fundamentalmente diferente e as balizas estão mudando”.
A equipe de ética e inteligência artificial (IA) foi mais um dos departamentos cortados na última sexta-feira. Como divulgou a Wired, a onda de demissões atingiu por inteiro o grupo de pesquisadores de IA que buscava tornar os algoritmos da plataforma mais transparentes e justos. A abertura pública dos algoritmos, inclusive, foi uma das promessas do empresário no primeiro semestre deste ano.
De acordo com Yoel Routh, diretor de segurança e integridade da rede social, cerca de 15% do departamento de confiança e segurança foi reduzido. Mesmo assim, ainda segundo ele, houve menor impacto no time de moderação de conteúdo.
Em uma série de tweets, Routh publicou que “embora tenhamos nos despedido de amigos e colegas incrivelmente talentosos ontem, nossos principais recursos de moderação permanecem em vigor”.
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Ainda na sexta-feira, Musk também utilizou seu perfil para justificar a onda de demissões. “Infelizmente, não há escolha quando a empresa está perdendo mais de US$ 4 milhões ao dia”, afirmou. No domingo (6), Musk prometeu a usuários brasileiros que iria analisar os bloqueios de perfis de influenciadores políticos de extrema-direita na plataforma.
Como pontua Renata Mielli, jornalista e secretária geral do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, as mudanças na empresa sobre a nova gestão de Musk refletem as visões do empresário, conhecido pelos investimentos na área de tecnologia industrial, sobre o que ele entende ser a plataforma e a liberdade de expressão.
“O objetivo de Musk é modificar o Twitter para que seja rentável para ele, garantindo que exista uma plataforma na qual a tolerância com o discurso de ódio, negacionismo e visões de extrema-direita sejam ainda maiores do que já são em outras plataformas privadas. Isso sem nenhum comprometimento com informação de qualidade ou com o jornalismo, porque ele não entende nada disso e não se importa”, comentou Mielli.
O Brasil também foi afetado pela onda de demissões em massa. No dia 4, parte dos 150 funcionários que integravam o escritório nacional da empresa perderam acesso ao sistema interno de comunicação. No próprio Twitter, alguns funcionários compartilharam despedidas à empresa e aos colegas de trabalho. Procurado, o Twitter não respondeu.
Integridade eleitoral norte-americana sob ameaça
Em meio a livre circulação de teorias negacionistas no Twitter e a proximidade das eleições de meio mandato nos Estados Unidos, que irão acontecer na terça-feira (8), o receio é que as demissões e mudanças de gestão trazidas por Musk possam prejudicar as tentativas da plataforma de manter a integridade eleitoral norte-americana.
Edward Perez, especialista em integridade eleitoral e ex-diretor de gestão de produtos da empresa, criticou a demissão em massa às vésperas do pleito eleitoral, iniciativa que pode deixar a plataforma aberta à manipulação e agentes com intenção de desinformação. “Tenho dificuldade em imaginar que isso não terá impacto material, porque você simplesmente não pode fazer esse trabalho muito, muito complexo sem ter pessoas suficientes. Não consigo pensar em um momento pior para Elon Musk cortar os recursos do Twitter”, disse ele a Wired.