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out 24, 2025 | Destaques, Notícias

Como pessoas de direita e de esquerda se informam?

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As redes sociais se consolidaram como o principal meio de informação política no Brasil, mas a forma como cada grupo político se informa ainda revela fortes divisões de classe, gênero e posição ideológica. Uma nova pesquisa do Aláfia Lab mostra que pessoas de direita concentram seu consumo informativo sobre política nas plataformas digitais, enquanto entre os eleitores de esquerda há maior diversidade de fontes, sobretudo entre os mais escolarizados e de classes mais altas.

Segundo o estudo Polarização política e consumo de informação no Brasil: uma análise sobre gênero, idade, classe e escolaridade, o país vive um cenário de segmentação informacional em que o acesso e a escolha das fontes refletem desigualdades sociais e políticas.

As redes sociais lideram entre os grupos de direita em todas as faixas etárias e classes, enquanto na esquerda o comportamento é mais variado: acima dos 45 anos, a televisão ainda predomina (53%), e entre os de maior renda ou escolaridade crescem o uso de sites jornalísticos e o consumo crítico de informação.

As diferenças também atravessam o gênero. Mulheres de esquerda recorrem mais às redes sociais (49%) do que homens do mesmo espectro (37%), que preferem televisão e sites de notícias. Já entre pessoas de direita, o comportamento é mais homogêneo, com destaque para o uso de aplicativos de mensagem entre os homens.

“Em conjunto, os dados mostram que, mesmo dentro do ambiente digital, o acesso à informação política segue estratificado. A direita mantém presença mais homogênea e intensa nas redes sociais, enquanto a esquerda distribui seu consumo entre plataformas e meios tradicionais, como sites jornalísticos e televisão, especialmente os homens de esquerda”, observou Vivian Peron, coordenadora de pesquisa do Aláfia Lab e responsável pelo estudo.

Realizada a partir de 1.549 entrevistas distribuídas por sexo, idade, região e classe social, a pesquisa integra o projeto Desigualdades Informativas, iniciativa do Aláfia Lab voltada a compreender como o consumo e a circulação de informação  se relacionam coma vida política e social dos brasileiros e de que forma as plataformas digitais têm moldado essas dinâmicas em um ambiente cada vez mais polarizado.

As desigualdades que moldam o acesso à informação entre direita e esquerda

O modo como os brasileiros se informam sobre política varia fortemente conforme a renda e a escolaridade e revela que o consumo de informação no país ainda reflete as desigualdades sociais. Enquanto as classes mais altas tendem a buscar fontes estruturadas, como sites jornalísticos e podcasts, as camadas populares permanecem mais dependentes da televisão e de plataformas de fácil acesso, especialmente redes sociais.

De acordo com o levantamento do Aláfia Lab, as redes sociais são dominantes entre pessoas de direita em todas as classes, das mais baixas às mais altas. Já entre os grupos de esquerda, o cenário é mais segmentado: nas classes altas prevalecem os sites de notícias, enquanto nas classes baixas a TV continua sendo a principal fonte de informação. A pesquisa também mostra que as classes mais altas da esquerda ainda preservam algum consumo de jornais impressos, ao passo que a direita de maior renda concentra-se em redes sociais e aplicativos de mensagens.

As diferenças se acentuam quando o recorte é a escolaridade. O estudo indica que quanto maior o nível de instrução, maior é o consumo de portais e sites jornalísticos, um crescimento que vai de 19% para 52% entre pessoas de esquerda e de 20% para 42% entre as de direita. Já a televisão segue com forte presença entre pessoas de escolaridade média, especialmente na esquerda.

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Na direita, as redes sociais superam 52% de uso em todos os níveis educacionais, mantendo-se como principal meio informativo. Entre os grupos de esquerda, essa proporção é menor, variando de 33% entre os menos escolarizados a 48% entre os de escolaridade média. A análise também observa que o consumo de podcasts e de sites de busca cresce com a formação universitária, enquanto os aplicativos de mensagem mostram comportamentos opostos: ganham força entre os mais escolarizados de direita e perdem espaço entre os da esquerda.

“Esses dados reforçam que o acesso à informação qualificada no Brasil está diretamente ligado às condições socioeconômicas e educacionais. Nas classes mais altas e escolarizadas, há maior capacidade de buscar e filtrar conteúdos jornalísticos, com os maiores acessos a portais de notícias. Nas classes baixas e entre pessoas de direita, a dependência de redes sociais, meio mais suscetível à desinformação e à intermediação algorítmica, evidencia uma exclusão informacional que reproduz desigualdades já conhecidas em outras dimensões sociais”, explica Vivian Peron.

A disputa nas redes sociais

Nas plataformas digitais, o consumo de informação política também segue dividido por classe, gênero, idade, escolaridade e espectro ideológico. A pesquisa do Aláfia Lab mostra que, embora o Instagram lidere entre quase todos os grupos sociais, o modo como cada rede é usada revela disputas e dinâmicas distintas entre direita e esquerda.

O Instagram se consolidou como a principal rede de informação no país, especialmente entre as classes mais altas, os de maior escolaridade, dentre os mais jovens e predominando, no caso de gênero, entre as mulheres. O dado reforça o papel central da plataforma no ecossistema informativo, com forte apelo entre públicos de maior renda e escolaridade. O destaque também é nítido entre mulheres de esquerda (46%), que usam o Instagram muito mais do que os homens de esquerda (31%); estes, por sua vez, são os que menos recorrem à rede para se informar.

Já o YouTube aparece como a segunda força do ambiente digital, com presença consistente entre pessoas de direita em todas as classes e idades. É a plataforma mais usada pelos mais velhos de direita (44%) e mantém altos índices de consumo entre jovens e adultos do mesmo espectro (38% entre homens e mulheres). Entre os grupos de esquerda, o uso cresce conforme aumenta o poder aquisitivo, chegando a 13,8% nas classes médias.

Embora em declínio geral, o Facebook ainda mantém força em segmentos específicos. É relevante entre as classes altas de direita (34%), mas perde espaço na esquerda à medida que a classe aumenta, Na baixa escolaridade de esquerda, apresenta maior uso (26%), acima do Instagram (20%). A rede também é mais popular entre pessoas mais velhas e mulheres de direita, que seguem a plataforma com frequência maior que outros grupos.

O X (antigo Twitter) tem um perfil mais elitizado: é preferido pelas classes altas de direita (25%) e mantém maior adesão entre pessoas com ensino superior. O uso do TikTok, por outro lado, é mais transversal. A plataforma aparece entre as três mais citadas pelos jovens de direita, junto de Instagram e YouTube, e mantém uma presença relativamente estável entre os diferentes grupos sociais e políticos.

G1 é o ponto em comum entre direita e esquerda

Quando o assunto são sites e portais de notícias, o consumo também reflete a polarização política no país, ainda que alguns pontos de convergência permaneçam.

Entre pessoas de esquerda, G1 e O Globo lideram o acesso, seguidos por Folha de S. Paulo e UOL. Já à direita, Record e Jovem Pan ocupam o centro do ecossistema informativo, acompanhados por SBT e R7.

Peron avalia que mesmo que mídias mais ideologizadas tenham uma audiência menor em termos absolutos, elas são muito significativas porque revelam uma segmentação clara no consumo de informação: “o Brasil Paralelo, por exemplo, se consolidou como um veículo identitário da direita, presente em diferentes faixas etárias e classes sociais. Já no campo da esquerda não há um equivalente com o mesmo alcance, embora a Carta Capital se destaque como principal referência nesse espectro”, explicou a pesquisadora.

As diferenças no consumo de notícias em portais e sites se acentuam quando o recorte é de gênero. Mulheres de esquerda acessam majoritariamente G1, O Globo, UOL, Folha e Veja, enquanto mulheres de direita preferem Record, Jovem Pan, G1, SBT e R7, sendo a Band mais citada entre elas (9,2%) do que entre as mulheres de esquerda (2,9%).

Entre os homens, o padrão se mantém: à direita, lideram Record, Jovem Pan, SBT, G1 e CNN Brasil; à esquerda, G1, O Globo, CNN Brasil, UOL e Band.

Apesar das divisões, o G1 surge como o único portal mencionado de forma consistente em todos os grupos, ainda que com maior peso entre homens de esquerda. 

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