Uma carta assinada por mais de 80 organizações de fact-checking do mundo, endereçada à CEO do Youtube, Susan Wojcicki, no último dia 12 de janeiro, soou como um “basta” e pedido de ação para que a plataforma detenha conteúdos desinformativos.
A carta aponta as consequências danosas das informações falsas para a saúde pública, democracia e harmonia social e não poupa o Youtube de um papel central nesta engrenagem. “Como uma rede internacional de organizações de verificação de fatos, monitoramos a disseminação de mentiras no ambiente digital — e, todos os dias, vemos que o YouTube é um dos principais canais de desinformação e boatos on-line em todo o mundo”.
Em seguida, os signatários afirmam que as medidas atuais adotadas são insuficientes e a plataforma estaria sendo usada para manipular e explorar as pessoas.
“A gente encontra muitas dificuldades para monitorar o Youtube por uma série de questões, como a falta de transparência e o volume de conteúdo que sobe todo dia. Isso é um caldeirão com potencial de desinformação gigante”, diz Natália Leal, diretora executiva da Agência Lupa, uma das que assinam o documento.
O Youtube costuma dizer que 1% do que circula na sua rede é conteúdo nocivo, lembra Leal, “mas este percentual aplicado sobre 100 milhões de horas é muita coisa”. A empresa respondeu oficialmente ao documento dizendo que já tem aplicado medidas de segurança e tem parcerias com agências de checagem, que representam apenas uma parte da solução para o problema.
A coordenadora sênior da Avaaz, Laura Moraes, apoiou a manifestação dos verificadores de fatos e comentou que o trabalho deles precisa ser apoiado e amplificado pelas redes sociais. “E não se trata apenas do Youtube – o escândalo do #twitterapoiafakenews só nos demonstra que não podemos contar com a boa vontade das plataformas em colocar a proteção do usuário à frente do lucro. Precisamos de regulamentações que garantam isso – e isso é urgente”, completou.
Medidas propostas
A carta segue os moldes da enviada ao grupo Meta em 2016 e tem a pretensão de alcançar quatro propostas sugeridas.
- Um compromisso com a transparência sobre a desinformação na plataforma: O YouTube deve apoiar pesquisas independentes sobre as origens das diferentes campanhas de desinformação, seu alcance e seu impacto, e as formas mais eficazes de desmascarar informações falsas. Deve também publicar sua política de moderação completa em relação à desinformação e a boatos, incluindo o uso de inteligência artificial e quais dados a alimentam.
- Além de remover conteúdo para fins de conformidade legal, o foco do YouTube deve ser fornecer contexto e oferecer exposição, claramente sobrepostos aos vídeos ou como conteúdo de vídeo adicional. Isso só pode acontecer se houver uma colaboração significativa e estruturada entre os checadores de fatos e o YouTube, com a plataforma assumindo a responsabilidade e investindo sistematicamente em esforços independentes de verificação de fatosem todo o mundo.
- Agir contra infratores reincidentesque produzem conteúdo que é constantemente sinalizado como desinformação e boato, especialmente aqueles que monetizam esse conteúdo dentro e fora da plataforma, evitando que seus algoritmos de recomendação promovam conteúdo de tais fontes de desinformação.
- Ampliar esforços atuais e futuros contra a desinformação e boatos em idiomas diferentes do inglêse fornecer dados específicos do país e do idioma, bem como serviços de transcrição que funcionem em qualquer idioma.
Leia a íntegra da carta aqui.