Pesquisa do Instituto Reuters, vinculado a Universidade de Oxford, mostrou o que já intuíamos: o Brasil não tem pessoas não-brancas chefiando as redações dos principais veículos de comunicação. Em relação aos outros quatro países pesquisados – Reino Unido, África do Sul, Alemanha e Estados Unidos – estamos na mesma situação da Alemanha. Ocorre que a Alemanha tem cerca de um milhão de pessoas de origem africana frente a uma população de 83 milhões de pessoas, o Brasil 55% da população negra, o equivalente a 112 milhões de pessoas.
O estudo “Raça e liderança na mídia noticiosa 2024” se concentra nas dez principais marcas de notícias off-line (TV, mídia impressa e rádio) e nas dez principais marcas de notícias on-line de cada um dos cinco países pesquisados, tendo como base o Digital News Report 2023.
“No nosso quinto ano de acompanhamento destas tendências em cinco mercados, continuamos a constatar que as pessoas não-brancas estão significativamente subrepresentadas e que as pessoas brancas estão significativamente sobrerepresentadas como chefes de redação em relação à população em geral nos cinco países”, conclui o relatório.
No panorama geral, 23% dos 75 principais editores das 100 marcas pesquisadas são pessoas não-brancas enquanto, em média, 44% da população em geral dos mesmos são pessoas não brancas. Se deixarmos de lado a África do Sul e olharmos para os outros quatro países abordados, 9% dos principais editores são pessoas não-brancas em comparação com, em média, 31% da população em geral.
No Brasil e na Alemanha, como tem acontecido nos últimos três anos do levantamento, nenhum dos veículos da amostra tem uma pessoa negra como editor-chefe. Na África do Sul, a percentagem dos principais editores não brancos caiu de 80% em 2023 para 71% este ano. Nos EUA, a percentagem dos principais editores negros também diminuiu para 29%, em comparação com 33% no ano passado. No Reino Unido, 7% dos que ocupam posições editoriais de topo são pessoas não brancas.
Por um outro aspecto, a parcela de leitores de notícias da Internet que afirmam ler notícias de pelo menos um grande meio de comunicação com um editor não branco varia de 0% no Brasil e na Alemanha a 90% na África do Sul.
Olhando para os dados de forma interseccional, observa-se que na África do Sul, 67% dos editores negros são homens – mais perto da paridade de gênero do que em 2023, quando o número foi de 75%. Enquanto isso, nos Estados Unidos, vemos uma mudança na direção oposta, com uma mudança de 50% de editores negros homens para 75% este ano.
Os pesquisadores e autores do relatório Amy Arguedas, Mitali Mukherjee e Rasmus Nielsen ressaltam que a posição de editor chefe é de importância prática e simbólica e, muitas vezes, as pessoas passam a representar as organizações que lideram, modelando o que o jornalismo pode e deve ser. “A composição racial e étnica da gestão da redação pode moldar a diversidade na contratação, retenção e promoção; a cultura e as normas profissionais nas redações; e o próprio conteúdo das notícias, influenciando a tomada de decisões editoriais e a atenção a histórias e experiências que refletem – bem ou mal – as comunidades que as organizações noticiosas procuram servir”.
Também vale a pena lembrar, conclui o relatório, “que a investigação revela que as pessoas de grupos minorizados muitas vezes se sentem incompreendidas e deturpadas pelos meios de comunicação social, e a crença de que as notícias não são feitas por ou para pessoas como elas – ou pior ainda, são cúmplices de sistemas de opressão – contribui para baixos níveis de confiança nas notícias”.