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acervo pessoal

maio 9, 2022 | pontos de vista

Bots ‘do bem’, bots ‘do mal’ e a importância da regulação

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Com a popularização da inteligência artificial (IA), os robôs que eram apenas ficção nos cinemas ou em desenhos animados, como os Jetsons, se tornaram realidade. Diferente do que era retratado no imaginário da maioria das pessoas, os robôs presentes nas redes sociais não são humanoides. Mas afinal, o que são eles? Eles são bons ou ruins? 

Popularizados através  da palavra bot, que é um recorte da palavra robot (robô, em inglês), eles não são seres pensantes capazes de fazer tarefas do dia a dia, como limpar a casa sem ordens dos chefes como a robô Rosie dos Jetsons (ainda que  robôs aspiradores já sejam uma realidade). Os bots são softwares que podem interagir com humanos através de comandos, seja tátil ou de voz.  

Hoje os atendimentos em lojas virtuais estão sendo realizados por robôs que perguntam ao cliente o que desejam e fazem uma triagem inicial antes de encaminhar o cliente para um atendente humano. Apesar de ainda executar tarefas simples com base nas interações dos usuários e em respostas prontas, há robôs que já exploram o uso de IA e criam conversas mais “inteligentes”, permitindo que o usuário possa ter uma melhor experiência e consiga respostas mais apropriadas ao seu problema.  Por exemplo, os assistentes pessoais Alexa, Google Assistente e Siri são capazes de desenvolver conversas mais complexas com os usuários e até mesmo contar piadas.

 Quando se trata de robôs para fins específicos, temos, por exemplo, o Ed criado pela CONPET da Petrobras em 2004, um dos primeiros no país. Através do uso de IA, esse robô foi desenvolvido para promover educação ambiental e sustentável. Desde que o Ed foi criado, a IA teve um avanço e barateamento, que permitiu a criação de sistemas mais avançados, sendo capazes de executar tarefas, tirar dúvidas em plataformas de ensino à distância, e até mesmo realizar trabalhos de advogados

Devido à possibilidade de criar bots no Twitter, houve uma popularização de robôs na plataforma, com  intuito de fornecer aos seguidores conteúdo de forma automática, com diversas finalidades como, por exemplo, o Amazônia Minada da organização InfoAmazonia, que tuíta sempre que encontra um requerimento de mineração em terra indígena e em unidades de conservação integral da floresta amazônica. Já com objetivo de combater a desinformação, temos o robô Fatima, da agência Aos Fatos, através de postagens contendo verificações de posts de postagens em redes sociais e declarações de políticos.

Por outro lado, nem todos bots são “bonzinhos”. Existe também o uso de robôs por pessoas ou organizações para fins maliciosos. Por exemplo, muitos estudos vêm identificando o uso de robôs para publicar conteúdos de forma automatizada nas redes sociais com o objetivo de promover um determinado conteúdo, muitas vezes com teor de desinformação. Esses robôs também são utilizados para promover ataques a determinados políticos ou minorias.  

Os bots que produzem conteúdo de desinformação costumam ter uma frequência de publicação de mensagens muito elevada, com o intuito de promover conteúdos para gerar mais alcance. Dessa forma, os usuários das redes sociais acabam tendo a impressão que determinado tópico seja tendência no momento (os famosos “trend topics” do Twitter, por exemplo). Essa falsa sensação de que um determinado tópico está em destaque nas redes sociais contribui para manipular a opinião dos usuários na rede afetando o discurso público e decisões políticas, como em eleições ou plebiscito (o Brexit, por exemplo).

Apesar dos avanços na área de IA permitirem robôs cada vez mais sofisticados, é incerto como serão utilizados no futuro. Apesar de alguns robôs contribuírem de forma construtiva para a humanidade, o mau uso de robôs é um risco tecnológico que precisa ser observado, estudado e regulado, antes que seja tarde demais para detê-los. A Europa já está caminhando em passos largos para a regulação da IA. O Brasil já começa a discutir a criação de políticas nesse sentido também.

Também é preciso obrigar a plataformas que identifiquem esses robôs, como o Twitter vem fazendo, e criar políticas para alfabetizar digitalmente usuários para que possam discernir contas robôs e qual o seu uso. Só um trabalho conjunto pode garantir um futuro em que “robôs” e pessoas convivam de maneira harmônica e dinâmica. 

 

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Wilson Ceron

Wilson Ceron (Ph.D.) é pesquisador do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo. Ele também atua no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). Durante seu Doutorado, Ceron propôs um novo método computacional baseado em cadeias de Markov para modelar tópicos em textos curtos. Ele ganhou o prêmio de melhor trabalho da Conferência Internacional sobre Engenharia Remota e Instrumentação Virtual 2020. Ele concluiu o mestrado em Ciência da Computação oferecido pela Universidade Federal de São Paulo sob o tópico de Análise de Mídias Sociais. Ele também é bacharel pela mesma instituição. Seus interesses de pesquisa estão nas mudanças em andamento nas redes de mídia social, ciência de dados, Internet das Coisas e realidade aumentada aplicada à ciência das comunicações. Atualmente faz parte do grupo de pesquisas Digital Media and Society Observatory (DMSO), na Universidade Federal de São Paulo.

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