Com a popularidade das notícias falsas nas redes sociais, pesquisadores têm voltado seus esforços para identificar e ajudar na remoção desses conteúdos. Um desses esforços, contudo, causou a suspensão de contas da equipe de pesquisadores da Universidade de Nova Iorque (NYU) pelo Facebook, no começo de agosto. A plataforma alegou que a equipe estava ferindo os Termos de Serviço da companhia e tirou o acesso a plataformas de pesquisa, como CrowdTangle e o Facebook Ads, além de ter removido os perfis pessoais de mais de 20 pesquisadores e jornalistas que fazem parte do projeto.
A equipe da NYU vem estudando desinformação no Facebook há três anos e tinha apoio da empresa com sede no Vale do Silício para alguns projetos. A relação azedou no verão norte-americano de 2020, quando o grupo lançou uma extensão para navegador chamada Ad Observer. Essa ferramenta permitia que usuários voluntários compartilhassem informações sobre anúncios exibidos para eles.
A ferramenta Ad Observer só coleta informações dos usuários que concordam em participar do estudo, sem identidades reveladas, segundo artigo publicado pelo jornal The New York Times. A ideia era expandir os estudos para entender a resistência à vacina e a crescente desconfiança no processo eleitoral, como está acontecendo no Brasil com os protestos pelo voto impresso. A equipe justificou que a extensão trazia dados que o CrowdTangle e o Facebook Ads não disponibilizavam, apesar de insistentes pedidos para inclusão por parte dos pesquisadores.
Em resposta, Mike Clark, diretor de gestão de produto do Facebook, publicou um longo artigo em que defende que pesquisa não é justificativa para comprometer a privacidade dos usuários. Clark lembra que a plataforma já trabalhava junto com três pesquisadores dessa equipe da NYU oferecendo suporte e acesso a dados de forma segura. Inclusive, durante as eleições presidenciais de 2020, a plataforma aumentou a transparência do Facebook e Instagram conforme pedido dos pesquisadores. Através da plataforma Facebook Ads Library, foram disponibilizados dados de anúncios como variação de gastos, impressões e informações demográficas sobre quem os viu.
Em outubro de 2020, o Facebook já tinha enviado à equipe da NYU uma carta formal notificando-os sobre a violação dos Termos de Serviço e deram até o dia 30 de novembro, último dia das eleições, para interromper a coleta de dados através da extensão. A comunidade global de pesquisadores de desinformação ressaltou que era necessário mais transparência sobre o impacto dos produtos da empresa nas eleições. Em resposta, o Facebook concedeu acesso aos dados de segmentação de anúncios das eleições presidenciais de 2020 dos Estados Unidos através da plataforma de Pesquisa Aberta e Transparência do Facebook (FORT).
A equipe da NYU relatou que esses dados não eram suficientes para entender o impacto da plataforma nos usuários, por isso criaram a extensão. Em uma carta aberta, a comunidade global de pesquisadores pediu que o Facebook disponibilizasse dados abrangentes e sistemáticos de segmentação de anúncios para pesquisadores independentes em uma base contínua. Esses acadêmicos mostraram solidariedade à equipe da NYU e destacaram que situações semelhantes vêm acontecendo com frequência com jornalistas e pesquisadores ao redor do mundo, como a desativação do plugin criado pelo veículo ProPublica para dar transparência aos anúncios do Facebook.
Apesar da empresa tirar o acesso dos pesquisadores às plataformas, o plugin continua disponível e operacional, coletando dados de voluntários. Isso permite que os pesquisadores continuem suas pesquisas, apesar do bloqueio.