No dia 9 de maio passado o jornalista Guilherme Balza, da TV Globo, publicou no X (ex-Twitter) que já estava há uma semana no Rio Grande do Sul fazendo a cobertura das enchentes e que até então não havia recebido nenhuma hostilidade. “Qualquer desconfiança era resolvida na conversa olho no olho. Mas aí as fake news mais bárbaras chegaram na ponta e tudo começou a se complicar”, revelou o jornalista que está fazendo uma intensa cobertura dos resgastes de desabrigados com os pés dentro d´água.
Ao ser alvo de agressões, infelizmente, Balza não está sozinho. A desinformação ambiental e o negacionismo caminham juntos com ataques a jornalistas, exatamente os profissionais que são os responsáveis por trazer a público a informação confiável e de qualidade.
O relatório Press and Planet in Danger[imprensa e planeta em perigo], divulgado pela Unesco no começo deste mês, revelou casos em que pelo menos 749 jornalistas e meios de comunicação que produzem reportagens sobre questões ambientais foram alvo de assassinato, violência física, detenção e prisão, assédio online ou ataques judiciais no período de 2009 a 2023. Mais de 300 agressões ocorreram entre 2019-2023 – um aumento de 42% em relação aos cinco anos anteriores (de 2014 a 2018).
O relatório ressalta que o problema é mundial, com registros de ataques em 89 países em todas as regiões do mundo. Ele foi lançado na Conferência do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que ocorreu em Santiago (Chile), entre 2 e 4 de maio de 2024.
“Sem informações científicas confiáveis sobre a crise ambiental em curso, nunca poderemos ter esperança de superá-la. No entanto, os jornalistas com os quais contamos para investigar esse assunto e garantir que as informações sejam acessíveis enfrentam riscos inaceitáveis, e a desinformação relacionada ao clima tem ocorrido de maneira desenfreada nas mídias sociais.”, afirmou Audrey Azoulay, diretora geral da Unesco.
Impunidade e aumento nas agressões físicas
O Observatório de Jornalistas Assassinados já registrou o assassinato de pelo menos 44 jornalistas que investigavam questões ambientais nos últimos 15 anos, dos quais apenas cinco resultaram em condenações – um índice de impunidade chocante de quase 90%. O relatório constatou, no entanto, que outras formas de agressão física também prevaleceram, com 353 incidentes. Também constatou que os ataques mais do que dobraram nos últimos anos, aumentaram de 85 de 2014 a 2018 para 183 de 2019 a 2023.
Em uma consulta realizada pela Unesco em março de 2024, a mais de 900 jornalistas que cobrem a área ambiental, em 129 países, 70% relataram ter sofrido agressões, ameaças ou pressões relacionadas às suas reportagens. Entre eles, dois em cada cinco sofreram violência física posteriormente.
Os dados mostram que as mulheres jornalistas afirmam estar mais expostas do que os homens ao assédio online, o que reflete a tendência identificada no The Chilling: global trends in online violence against women journalists.
Além dos ataques físicos, um terço dos jornalistas pesquisados disse ter sido censurado e quase metade (45%) declarou ter se autocensurado ao cobrir o meio ambiente devido ao medo de ser atacado, de ter suas fontes expostas ou por saber que suas matérias estavam em conflito com os interesses das partes interessadas.