Como explicado na seção Qual é o cenário?, a atual arquitetura das plataformas digitais é responsável pelo aumento da circulação e da produção de desinformação. Isso porque a busca incessante e incondicional pela atenção do usuário, medida por tempo de uso e engajamento, gera uma série de incentivos sistêmicos à segmentação do debate e ao consumo de conteúdos que reproduzem teorias da conspiração e visões extremadas. Os aplicativos de mensagem também têm incentivos sistêmicos à desinformação, por viabilizar comunicação viral de forma opaca e anônima.
Ante essa realidade, há hoje vários pesquisadores e movimentos que discutem a necessidade de as plataformas redesenharem seus serviços de modo a restringir os incentivos sistêmicos. A Iniciativa por Infraestrutura Pública Digital, por exemplo, envolve ativistas e pesquisadores como Ethan Zuckerman, que viram a web nascer de forma distribuída e se concentrar ao longo do tempo. A proposta da iniciativa é ir além da discussão de ‘consertar’ as plataformas, apostando na criação de infraestruturas públicas, inspirada nos sistemas públicos de comunicação.
O criador da web, Tim Berners-Lee, publicou em 2018 um manifesto chamado Save the Internet, em que defende que a mudança no cenário atual depende de dar aos indivíduos o poder de controlar seus próprios dados.
O ex-engenheiro do YouTube Guillaume Chaslot tem denunciado como a ferramenta de intercâmbio de vídeos gera recomendações ‘tóxicas’ direcionadas apenas a manter os usuários assistindo a vídeos por mais tempo na plataforma. Essas recomendações reforçam teorias da conspiração e conteúdos extremistas, diminuindo a diversidade de ideias e pontos de vista ofertados ao espectador.
O desafio de se redesenhar arquitetura das plataformas é que isso contraria sua própria natureza e modelo de negócios. Nesse sentido, a adoção de critérios de interesse público em sua arquitetura, de forma a diminuir o conteúdo inflamatório e ampliar a diversidade de visões ofertadas, pode depender de medidas regulatórias para se viabilizar.