No dia 22 de abril, diversos portais de notícia deram destaque ao anúncio de que a Meta, holding controladora das redes sociais Facebook e Instagram, havia derrubado inúmeros perfis e contas que espalhavam desinformação sobre temas ambientais. Controladas por dois militares brasileiros, as contas criticavam, sobretudo, a atuação de ONGs e elogiavam a ação do Exército nas ações de combate ao desmatamento na Amazônia. O episódio evidencia não apenas como certos grupos utilizam os canais sociais para propagar desinformação, mas coloca em questão como hoje o debate público no Brasil está marcado pelo negacionismo, pelo revisionismo e pela ideologia, deixando de lado os fatos e a ciência.
Mapeamos, monitoramos e investigamos essa indústria de desinformação socioambiental por um ano no projeto Mentira Tem Preço, realizado pela FALA e pelo InfoAmazonia entre 2021 e 2022. Apenas no YouTube analisamos mais de 400 vídeos com desinformação socioambiental e negacionismo climático, com cerca de 70 milhões de visualizações e 67 milhões de interações. Lá, o Palácio do Planalto aparece como o maior propagador de desinformação socioambiental.
Essa Amazônia inventada e preservada existe apenas nessas redes de desinformação. O desmatamento cresceu 20% em 2021 e a área ocupada pelo garimpo em terras indígenas subiu 495%; agosto foi o mês com o maior número de queimadas na Amazônia nos últimos 12 anos; o orçamento de órgãos ambientais no governo Bolsonaro foi o menor em 17 anos; nenhuma terra indígena foi demarcada.
No entanto, a máquina de desinformação sobre o desmatamento parece conseguir bons resultados. Levantamento do Datafolha, de junho deste ano, mostra que 35% dos brasileiros ainda acreditam que o governo tenha tomado medidas adequadas para combater o desmatamento. Outros 33% afirmam ver mais combate contra o garimpo do que inação.
Se hoje a preservação das florestas tem mais espaço no debate público, com mais atenção da mídia tradicional, cobertura internacional e das próprias redes sociais, o que explica os altos índices de aprovação às medidas ambientais do governo?
É apenas uma pergunta retórica. Sabemos que as redes sociais têm contribuído para a polarização da sociedade e para visão de mundo em “bolhas”, provocadas pelos algoritmos, como evidenciou o Nobel de Economia Daniel Kahneman (autor do best seller “Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar”) em palestra recente no Brasil.
Como tanta desinformação no ar e com tantos grupos presos ao mesmo ponto de vista, evitando o contato com outras perspectivas e negando informações, quais os caminhos possíveis para levarmos adiante os fatos?
Este mês, iniciamos a segunda temporada do projeto Mentira Tem Preço, com foco na desinformação socioambiental nas eleições em todos os estados da Amazônia Legal. Seguiremos, ainda, com nosso monitoramento de redes, aplicativos de mensagem e plataformas. Se você não conhece o projeto, convido a conhecer a indústria de desinformação que revelamos: Mentira Tem Preço.