Início 9 Destaques 9 Aláfia Lab lança relatório sobre posicionamento de candidatas negras no Instagram

Últimas notícias

Aláfia Lab lança relatório sobre posicionamento de candidatas negras no Instagram

COMPARTILHAR:

Sobre o que as candidatas negras falam? Essa foi a pergunta que norteou o relatório “Mulheres negras na política”, publicado pelo Aláfia Lab nesta semana. A organização analisou perfis no Instagram de candidatas entre agosto e outubro de 2024 e buscou mapear os temas de interesse, as palavras e expressões usadas, o que engaja, e qual a linguagem visual.

Para o estudo, os pesquisadores do Aláfia Lab selecionaram 21 candidatas que se encaixavam em dois critérios estabelecidos: a autodeclaração racial das candidatas no TSE como pretas ou pardas e a verificação da conta no Instagram, algo condicionante para a coleta de dados. Das candidatas, 12 são do Sudeste, quatro do Nordeste, três do Norte e uma do Centro-Oeste e uma do Sul. Além disso, 14 estavam se candidatando a um cargo de vereadora, 6 para a prefeitura e 1 para a vice-prefeitura.

Durante o período da pesquisa foram analisados 3.627 posts das 21 candidatas e os temas mais frequentes abordados pelas mulheres incluíram processos eleitorais, lutas coletivas e questões de gênero. Por exemplo, palavras como “cidade”, “campanha” e “vote” foram predominantes entre as publicações e citadas por todas as candidatas pelo menos uma vez, mas também se destacaram termos relacionados à mobilização coletiva, como “povo”, “mulheres”, e “luta”. 

Além da análise das palavras, o relatório apresenta uma análise de grupos de palavras que se estruturam para formar tópicos temáticos. O primeiro grupo se assemelha a um tópico religioso com destaque para as palavras “deus”, “SeCristoComigoVaiEuIrei” e “pastora”. Outros dois grupos abordam questões de gênero e identidade (“mulher” e “negra”) e da cidade, em que as palavras “vote” e “vamos” ganham relevância. Os outros dois grupos apresentam tom mais institucional ou formal, com o uso de palavras como “Eleições2024”, “campanha” e alguns números de candidaturas.

Apesar de todas as candidatas terem falado ao menos uma vez sobre alguma questão de gênero, os pesquisadores mapearam apenas cinco menções à palavra “machismo” publicadas por quatro candidatas e somente 21 usos da palavra “feminismo” por três candidatas diferentes. “Nota-se, a partir disso, uma escolha de não abordar termos ideológicos marcantes, apesar de temas feministas estarem fartamente presentes. A ideia, portanto, parece ter sido apostar numa conduta centrada na exaltação do papel da mulher na política sem fazer menções explícitas a rótulos mais conhecidos”, analisa o relatório.

Questões raciais e religião

O estudo também revela uma forte conexão com questões raciais. Das 21 candidatas analisadas, 16 delas abordaram explicitamente temas relacionados à raça como bandeira, utilizando hashtags como #MulheresNegrasNoPoder e #VoteNegra. Essas publicações mapeadas exaltam a cultura negra e a possibilidade de ocupar um espaço no cenário político. “São posts que reiteradamente pontuam a força da mulher negra e a capacidade de resiliência perante os desafios da campanha e da política”, pontua o Aláfia Lab.

A presença da palavra “racismo” foi notada em 161 publicações de 12 candidatas, refletindo a preocupação com a violência e a injustiça enfrentadas pela população negra no Brasil. Nessas publicações, foram encontradas palavras como  “luta” e “combate”, bem como “violência” e “justiça”. No entanto, as candidatas de partidos mais conservadores, como o PL e União Brasil, mostraram-se menos propensas a discutir essas questões. O termo não foi citado por nenhuma das candidatas desses partidos.

Outro tema importante e presente no posicionamento das candidatas é a religião. Entre as 21 candidatas analisadas, 10 mencionaram a palavra “Deus” em diferentes contextos. O uso mais proeminente foi da pastora Sandra Alves, única candidata que incorporou a religião em seu nome oficial e que utilizava sua fé como um pilar central de sua campanha.

A análise das publicações revelou que as candidatas podem ser agrupadas em dois conjuntos principais: um que enfatiza a religião cristã, predominante entre candidatas de partidos conservadores como PL e União Brasil, e outro que representa candidaturas mais progressistas, onde o tema religioso aparece de forma menos proeminente. 

“Raça e gênero são temas importantes, mas eles estão longe de serem os únicos temas e são tratados de maneiras e com termos específicos para tentar não gerar antagonismos. Além das questões de gênero e raça, o tema da religião é bastante forte, assim como as ideias de ação coletiva pela cidade”, analisa o relatório. 

“Como vemos aqui, na proposição de agendas políticas por mulheres negras esses temas também aparecem bastante entrelaçados, especialmente aqueles de aparência, gênero e religiosidade, onde vale destacar o espaço que têm as religiões evangélicas”, complementam os pesquisadores.

COMPARTILHAR: