A pesquisa TIC Domicílios 2022, lançada nesta quarta-feira, dia 16 de maio, mostrou que 62% dos brasileiros acessam a Internet exclusivamente pelo celular, o que representa 92 milhões de pessoas. O acesso móvel está vinculado a maiores barreiras de conexão e a menores habilidades digitais, como a verificação de informações ou práticas de segurança online. Dados sobre o acesso geral no país, por indivíduo e por domicílio, também foram compartilhados pelo estudo que busca medir a posse, acesso, usos e hábitos da população brasileira em relação às tecnologias digitais.

As pessoas que utilizam o dispositivo móvel como principal fonte de acesso possuem, majoritariamente, graus de instrução mais baixos. Elas representam 92% dos indivíduos analfabetos ou com educação infantil, 83% dos que possuem ensino fundamental, 67% dos que completaram o ensino médio e apenas 20% com ensino superior.

Além disso, essa prática de conexão também é característica de indivíduos de classes sociais menos favorecidas. Sendo 84% dos usuários das classes DE e 68% da classe C, enquanto as classes B e A representam, respectivamente, 31% e 6%. Já sobre a cor ou raça, há prevalência em usuários que se reconhecem como pardos (67%) e pretos (63%) em relação aos brancos (54%).

Durante a coletiva de lançamento, o coordenador da pesquisa, Fabio Senne, apontou também correlações desse acesso exclusivo pelo celular com dificuldades de conexão geral no país. “Onde há menor proporção de usuários de Internet, portanto, onde há alguns indícios de maiores barreiras ao acesso, também são os mesmos estratos onde temos a maior proporção de usuários de Internet que acessam exclusivamente pelo celular. Esse é um marcador importante na qualidade desse acesso”, comentou.

Os usuários das classes DE e C, bem como as pessoas com menores graus de instrução, também são os mesmos que possuem menor acesso geral à Internet no país (ver informações abaixo).

Habilidades digitais

O tipo de dispositivo utilizado impactou no desenvolvimento de habilidades digitais. De acordo com o estudo, que mapeou 12 habilidades online, os usuários que usam apenas celular são aqueles que possuem menos competências se comparados àqueles que podem acessar à Internet por diversos meios, como o computador.

A pesquisa mostra que, enquanto 74% das pessoas que usam o computador e celular já verificaram se uma informação encontrada online era verdadeira, apenas 37% dos usuários exclusivos de dispositivos móveis afirmaram ter feito isso alguma vez. A média total ficou em 51%.

Além disso, 69% dos usuários multidispositivos já adotaram medidas de segurança para proteção de contas online, como escolher senhas fortes ou usar verificação em duas etapas. A prática é replicada somente por 33% dos que possuem o celular como fonte principal de acesso. As diferenças entre os dois públicos se assemelham nas demais competências mapeadas pelo relatório.

Acesso digital no Brasil continua estável desde a pandemia

A quantidade geral de domicílios e indivíduos conectados em 2022 é semelhante aos resultados mapeados desde 2020. No ano passado, cerca de 80% das residências brasileiras e 81% dos cidadãos possuíam acesso à Internet. Em relação aos usuários, esse valor representa 149 milhões de pessoas conectadas.

Sobre a frequência de uso, 142 milhões de indivíduos utilizam a Internet todos os dias ou quase todos os dias e apenas 7 milhões possuem outras frequências de acesso. As maiores frequências também foram identificadas em classes sociais mais elevadas, sendo 93% dos representantes da classe A, 91% da B e 81% da C. Apenas 60% dos indivíduos das classes DE acessam a rede todos os dias.

Apesar do número elevado de usuários conectados, 36 milhões de brasileiros ainda não são usuários de Internet. Conforme divulgado pelo estudo, o perfil desse público é constituído, em grande parte, por pessoas que vivem na área urbana, com grau de instrução até o ensino fundamental, representantes das classes DE e C, e de cor preta ou parda. Dentre os motivos para isso, estão a falta de habilidade com o computador, falta de interesse e de necessidade e o preço gasto.

Metodologia

A TIC Domicílios 2022 é desenvolvida pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) e Nic.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), ambos integrantes do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Para esta última edição, foi utilizado uma amostragem de 23.292 domicílios e 20.688 indivíduos. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas face-a-face e ocorreu entre junho e outubro de 2022.

No início de maio, o CGI.br também divulgou os resultados da pesquisa TIC Kids 2022, que mostrou o uso generalizado do TikTok por crianças brasileiras entre 9 e 12 anos.