Investigação da Policia Federal aponta que agentes lotados na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) utilizaram ferramentas de espionagem adquiridas pelo órgão para monitorar os movimentos de autoridades do Judiciário, do Legislativo e da Receita Federal, além de personalidades públicas, como jornalistas. Os atos irregulares teriam ocorrido durante o governo de Jair Bolsonaro, segundo informações da Agência Brasil.
O resultado das investigações está na decisão, de 86 páginas, do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que autorizou uma nova fase da Operação Última Milha. A operação apura o uso da Abin para fins pessoais e políticos, no governo passado. Moraes é relator do inquérito. Ontem, 11 de julho, quatro pessoas foram detidas: Mateus Sposito, ex-assessor da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República; Giancarlo Gomes Rodrigues, militar e ex-servidor da Abin; Marcelo de Araújo Bormevet, policial federal que atuava na Abin; e Richards Dyer Pozzer, responsável por disseminar notícias falsas. Rogério Beraldo de Almeida, também apontado como responsável por perfis falsos nas redes sociais, segue foragido.
Além de autoridades do Legislativo, Executivo e Judiciário, as jornalistas Mônica Bergamo, Vera Magalhães e Luiza Alves Bandeira foram monitoradas, além das agências de checagem de fatos Aos Fatos e Lupa e da organização Sleeping Giants Brasil.
Em relação ao Legislativo, a PF identificou ações clandestinas para “caçar podres” do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) e também contra Arthur Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (MDB-AL). A PF trouxe mensagem de Ramagem que indica que o ex-diretor da Abin determinou pessoalmente o monitoramento de Lira.
Sobre o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), as investigações mostram que na época em que foi espionado atuava na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia e havia requerido que o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, fosse convocado a prestar depoimento.
Um dos principais pilares da investigação são as conversas mantidas entre o militar Giancarlo Gomes Rodrigues e o policial federal Marcelo Araújo Bormevet, que operavam diretamente o First Mile. As investigações também citam servidores do gabinete da Presidência que teriam como função disseminar desinformação acerca das autoridades monitoradas, no que ficou conhecido como “gabinete do ódio”.
Abraji repudia ação dos agentes da Abin
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou nota repudiando a ação de agentes da Abin de espionar e coordenar ataques on-line contra jornalistas e agências de checagem. “É inaceitável que servidores públicos atuem desse modo em total contrariedade à lei. Atacar e espionar jornalistas também representa um ataque ao estado democrático de direito”, diz a nota.
“É inaceitável que sistemas operados por uma organização de Estado como a Abin tenham sido usados de forma clandestina contra a Lupa e contra a imprensa. Também é inaceitável não termos informação detalhada sobre a extensão desse uso e quais dados sobre a nossa organização e os nossos colaboradores estiveram e estão em risco. Buscamos legalmente o acesso a essas informações. Sabemos que esse tipo de ataque só se dá porque nosso jornalismo é relevante, responsável e de extrema credibilidade, o que continuará sendo, mesmo sob risco”, afirmou Natália Leal, diretora-executiva da Lupa.