“A realidade é que nada disso foi pensado para crianças”, afirmou Frances Haugen sobre a construção das plataformas digitais, especialmente as vinculadas ao grupo Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), onde liderou a área de Integridade Cívica. Segundo a engenheira de dados, há muitas décadas já se sabe que crianças têm maiores tendências a comportamentos compulsivos e menos autocontrole, mas que nada disso é levado em consideração na construção dessas plataformas digitais. O uso e os impactos das plataformas digitais em crianças e adolescentes foi o foco do debate realizado na manhã desta terça-feira, dia 5, com Haugen e representantes de organizações de defesa dos direitos de crianças e adolescentes, a convite do Instituto Alana.
Um número muito reduzido de pessoas é responsável por criar sistemas que serão usados por bilhões, lembrou Frances Haugen, pontuando que muitas delas são jovens que não possuem filhos ou mesmo contato cotidiano com crianças: “No Facebook, onde trabalhei, com 30 anos você já é sênior’”. Para ela, outro problema a ser superado é a falta de formação em Ciências Humanas por parte dos responsáveis pela criação das tecnologias digitais, o que impossibilita uma abordagem que leve em consideração as consequências sociais e os impactos do que é produzido e disponibilizado nas redes. “Quando eu trabalhei no Facebook, nunca, nunca se debateu, por exemplo, as especificidades e necessidades das crianças”.
A coordenadora do programa “Criança e Consumo” do Instituto Alana, Maria Mello, abriu a discussão trazendo dados sobre o acesso de crianças e adolescentes às plataformas digitais. No Brasil, 94% dos que têm entre 10 e 17 anos usam a internet, sendo o telefone celular o principal dispositivo para conexão. Informações da pesquisa Tic Kid Online Brasil de 2019 indicou que, das crianças e adolescentes que acessam a Internet, 68% usam as redes sociais e 83% acessam “vídeos, programas, filmes e séries”. Em termos de frequência, 46% usam as redes sociais mais de uma vez por dia.
Sobre as políticas de privacidade e segurança da população infantojuvenil no ambiente virtual, foram apresentados dados sobre divergências entre práticas aplicadas em diferentes países.