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acervo pessoal

maio 23, 2022 | pontos de vista

A omissão das plataformas na desinformação escondida nos comentários

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As plataformas de redes sociais criam recursos para engajar e fidelizar seus usuários. Um desses recursos são os comentários, presentes em quase todas as plataformas. Nesses espaços, os usuários compartilham seus pensamentos, objeções, felicitações ao conteúdo a que foram expostos, assim como podem reagir a comentários anteriores. O problema é que os comentários acabaram se tornando também ambientes propícios para o compartilhamento de desinformação, informação incorreta, rumores ou teorias da conspiração. Este cenário tende a gerar dúvidas nas pessoas que engajam com esse conteúdo, podendo gerar o efeito de verdade ilusória nos usuários.

 Também conhecido como ilusão de verdade, o efeito de verdade ilusória acontece quando ouvimos repetidas vezes as mesmas informações (na maioria dos casos falsas ou incorretas) e passamos a acreditar que elas são verdade. Muitas vezes a desinformação ou a teoria de conspiração é exibida em conteúdo verídico, confundindo os leitores e criando a possibilidade de rumores.

 Embora medidas recentes tenham sido tomadas, como no Facebook, onde há por exemplo, uma política específica de remoção de informações errôneas sobre vacinas, a seção de comentários ainda é uma área, muitas vezes, negligenciada pelas empresas de tecnologia, seja nas suas políticas ou nas medidas a serem tomadas para mitigar o efeito da desinformação. Os comentários não estão sujeitos a rótulos de advertência aplicados pelos parceiros de verificação de fatos, como é exibido nas postagens originais. A moderação por parte dos criadores das páginas ou grupos também não é muitas vezes eficaz para manter a desinformação fora das seções de comentários.

Estudos recentes mostram que as alegações enganosas sobre vacinas existiam em grande quantidade na seção comentários.  Em média, um em cada cinco comentários nos posts do Facebook continha informações errôneas sobre as vacinas contra Covid-19 ou sobre a própria pandemia.

O mesmo acontece no YouTube. Vários estudiosos têm demonstrado uma concentração de narrativas falsas ou errôneas na seção de comentários da plataforma de vídeos. Uma análise de cerca de 3,5 milhões de comentários em inglês publicados em quatro canais populares do YouTube por mais de 16 meses mostrou que o nível de desinformação nas seções de comentários do YouTube aumentou durante a pandemia. O estudo mostrou também que os comentários falsos sobre a Covid-19 aumentaram em 0,4% por mês e geraram, estatisticamente, mais reações que outros tipos de comentários.

 Os comentários podem potencialmente levar a uma espiral crescente de desinformação, que pode prejudicar as políticas públicas, como tem sido visto no caso da pandemia no novo coronavírus, como maior rejeição às vacinas. Por isso, os comentários devem ser alvo de mais atenção nas políticas de moderação das plataformas e também de pesquisadores e jornalistas. Assim, poderemos pressionar as plataformas a adotarem medidas para que o ambiente informacional seja menos tóxico aos usuários.

 

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Mathias Felipe

Jornalista, cientista da computação e pesquisador, trabalhou para organizações do Brasil e do exterior. Interessado nas mudanças da prática jornalística, em particular dados e novas tecnologias.

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