O governo federal anunciou a criação de um grupo de trabalho interministerial para analisar e combater a desinformação vacinal publicada nas redes sociais por médicos e pessoas em geral. A iniciativa, como explicou a ministra da saúde Nísia Trindade em entrevista à Folha no último domingo (4), vai identificar os tipos de informações falsas sobre o tema e analisar possíveis punições para quem publicou e repassou os conteúdos.
“Condutas criminosas de médicos e de outras pessoas terão de ser punidas, pessoas que vão às redes falar absurdos, que as pessoas vão morrer se tomar a vacina ou ter alguma sequela”, afirmou a ministra para o jornal.
Ainda segundo Trindade, farão parte do GT representantes do Ministério da Saúde, da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Advocacia-geral da União (AGU) e Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP). O projeto-piloto terá como foco as vacinas, mas poderá ser expandido para outros temas.
Mais informações sobre quando o GT irá iniciar as atividades e como funcionará das dinâmicas de análise e responsabilização dos usuários ainda não foram divulgadas pela pasta.
Um dia após o anúncio, o Projeto Comprova identificou uma informação falsa sobre a vacina contra Covid-19 circulando nas redes sociais. De acordo com a agência de checagem, vídeos utilizando trechos do jornalista Alexandre Garcia afirmavam, sem comprovação, que o Ministério da Saúde havia proibido o imunizante da Astrazeneca e publicado alerta para possíveis perigos da vacinação.
Desinformação prejudica campanhas de vacinação no Brasil
Conforme dados apresentados pelo Ministério da Saúde, a cobertura vacinal no país tem sofrido um declínio, com cada vez menos pessoas se vacinando contra sarampo e poliomielite, por exemplo. À Secom, o infectologista Éder Gatti, diretor do Departamento de Imunizações do Ministério da Saúde, explicou que esses resultados são frutos de diversos fatores, inclusive a desinformação.
“A queda da cobertura é um problema multifatorial, mas a desinformação tem uma influência considerável”, disse Gatti, apontando também o risco real da volta de doenças anteriormente radicadas em razão da baixa adesão da população aos imunizantes.
Em abril deste ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) lançou um relatório apontando que o Brasil passou por um retrocesso na vacinação infantil entre 2019 e 2021, período em que 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, nem a da poliomielite. O documento também aponta a desinformação como um dos principais fatores para o resultado.
O NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também mostrou como novas campanhas de desinformação surgiram após o início da vacinação contra o Covid-19 fazendo uso dos imunizantes bivalentes.