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mar 1, 2023 | Destaques, Notícias

Onda de demissões nas big techs compromete proteção dos usuários

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Desde o fim do ano passado as big techs não param de demitir seus funcionários. As várias rodadas de layoffs colocaram o crescimento das plataformas digitais em xeque e evidenciaram a crise do setor. Além das questões econômicas, a drástica redução do número de funcionários afeta também o combate à desinformação e a produção e execução de políticas de proteção nas redes.

“As demissões impactam de maneira tremenda as equipes de formação de políticas, primeiro, porque as demissões são de todos os lados e por motivações diferentes. Algumas demissões de pessoas de alto perfil, de engenheiros, pessoas de áreas mais técnicas, de diretorias, e o pessoal da parte de baixo da estrutura, os trabalhadores mais ‘braçais’, que seriam trabalhadores de empresas terceirizadas contratadas para fazer a moderação de conteúdo”,  explicou Daniel Jorge Teixeira, pesquisador doutorando da Universidade de Brasília.

Só em novembro de 2022, a Meta – empresa detentora do Facebook, do Instagram e do WhatsApp – demitiu 11 mil funcionários, 13% da sua equipe. Na semana passada, o jornal The Washington Post divulgou que a big tech planeja mais uma rodada de demissões em massa. Este novo corte afetaria milhares de profissionais de recursos humanos, advogados, especialistas financeiros e cargos executivos. 

Teixeira aponta que algumas das empresas avaliam demitir pessoas consideradas não “tão necessárias” para o funcionamento de forma que se mantenha o fluxo de caixa, proporcionando mais lucros aos acionistas. “Isso impacta na formação de políticas da empresa porque diminui a quantidade de profissionais que estão trabalhando nessa área de controle do que pode e do que não pode ser publicado e você acaba precarizando essa área também”, indica o pesquisador.

Twitter demite funcionária que dormiu no escritório 

O Twitter, amplamente atingido após ter sido comprado por Elon Musk, atua hoje com menos de 70% do quadro de funcionários de 2022. De acordo com o TechCrunch, a plataforma, que já teve 7.500 funcionários, opera hoje com menos de 2 mil. As últimas demissões ocorreram neste fim de semana, atingindo, inclusive, a executiva que se gabou de dormir no escritório da empresa.

A redução drástica de funcionários colocou em xeque o funcionamento de muitos projetos. Em janeiro deste ano, por exemplo, a Reuters divulgou o desmonte da equipe do Twitter Moderation Research Consortium, criado como compromisso da plataforma com a União Europeia para capacitar a comunidade científica da Europa por meio de compartilhamento de dados sobre desinformação.

Além disso, a equipe de acessibilidade foi desmontada, o que fez com que o senador estadunidense Ed Markey endereçasse uma carta a Elon Musk requerendo informações sobre o tema e solicitando o restabelecimento da equipe. “Todas essas mudanças sob sua liderança sinalizam um desrespeito às necessidades das pessoas com deficiência”, escreveu Markey ao dono do Twitter.

Teixeira relembra também a demissão de equipes de moderação e de engenharia na plataforma de textos curtos, o que impacta a organização das informações na rede, além da regulação do conteúdo que é publicado na plataforma, perdendo filtros importantes, tanto nos algoritmos como no componente humano. Não à toa, o discurso de ódio aumentou de forma significativa na plataforma após a gestão Musk. 

Youtube elimina equipe da política de desinformação 

Já o YouTube, divulgou o The New York Times, reduziu de forma drástica sua equipe de especialistas em política encarregada de lidar com a desinformação. O corte faz parte da redução de 12 mil funcionários do Google, outra demissão em massa que ocorreu no início deste ano. De acordo com as fontes do jornal, a empresa Alphabet deixou apenas uma pessoa encarregada da política de desinformação em todo o mundo.

Em entrevista ao NYT, o cofundador do Network Contagion Research Institute, Joel Finkelstein, disse que “confiança e segurança foram as primeiras coisas a serem eliminadas”. “O verniz da civilidade é caro”, completou Finkelstein.

Para Daniel Jorge, que pesquisa a moderação de conteúdo no YouTube, no Facebook e no Twitter, as plataformas podem até ter uma preocupação em manter a informação correta, mas “elas têm uma preocupação maior em manter as pessoas conectadas”, na lógica da economia da atenção. “Para a empresa o principal é manter o clique em algo, mesmo que seja uma desinformação, do que remover aquilo enquanto não estiver impactando diretamente o modelo de negócios”, afirma o pesquisador.

Teixeira também frisa que enquanto a desinformação não impactar o modelo de negócios não vai haver uma mudança estrutural na rede e defende que o estado precisa se impor para regular as plataformas porque essa autorregulação não vai acontecer de maneira efetiva por conta própria.

Outras empresas também anunciaram grandes cortes na equipe de funcionários. O Spotify divulgou em janeiro a demissão de 6% da sua equipe. Já a onda de demissões na Amazon, que começou no ano passado, deve atingir mais de 18 mil trabalhadores. Conforme anunciou a Época, muitos empregos começaram a ser substituídos por sistemas de inteligência artificial. 

Mesmo que essa seja uma tendência e que a IA já auxilie de forma significativa na moderação de conteúdo, funções de revisão e criação das políticas que balizam o trabalho de remoção não podem ser substituídas por máquinas. “Esse lado não vai ser substituído de maneira nenhuma porque é necessário que você tenha pessoas para tomar as decisões”, explica o pesquisador.

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