O Instituto Reuters divulgou, na semana passada, um relatório com tendências e previsões para o jornalismo, a mídia e a tecnologia em 2023. A instituição, ligada à Universidade de Oxford e dedicada aos estudos de jornalismo, destaca que entre os principais desafios dos meios de comunicação está conquistar o público em meio a um desânimo com as notícias.
A pesquisa da Reuters parte de um questionário respondido por CEOs, editores e diretores de veículos de comunicação. A grande maioria dos entrevistados se preocupa com uma tendência do Digital News Report de 2022, que destaca que mais usuários estão evitando ativamente as notícias. Os dados “mostram que essa evitação seletiva, muitas vezes envolvendo histórias importantes como política, dobrou em alguns países desde 2017, porque muitas pessoas acham que a cobertura da mídia é excessivamente negativa, repetitiva, difícil de confiar e deixa as pessoas se sentindo impotentes”, indica o relatório.
A preocupação com essa tendência para 2023 atinge 72% dos editores consultados. No ano de 2022, 42% dos editores disseram que o tráfego ano a ano em seus sites aumentou, mas 58% relatou que o tráfego continuou igual ou caiu, mesmo com as notícias relevantes do ano, como a guerra na Ucrânia.
O relatório da pesquisa ressalta a visão da jornalista Amanda Ripley (Washington Post), que aponta a necessidade de uma abordagem que entenda a forma como as pessoas recebem as notícias. Para ela, é importante que os profissionais busquem explicar melhor os conteúdos, apontando inclusive soluções e não apenas identificando os problemas existentes.
Essa é a mesma visão dos outros entrevistados, quase todos (94%) são entusiastas de um jornalismo explicativo, e 73% de um jornalismo constitutivo, que traga soluções. Além disso, 66% acham relevante apostar em histórias inspiradoras para evitar a fadiga de notícias dos leitores.
Plataformas digitais
As entrevistas também apontaram para os olhares dos editores para as plataformas digitais em 2023. As mudanças nas redes sociais em 2022 direcionaram as práticas dos veículos. Por exemplo, após a compra do Twitter por Elon Musk e as diversas controvérsias empreendidas por ele, como suspensão de jornalistas, demissão de funcionários da equipe de integridade, os esforços para a plataforma serão menores (-28 pontos).
Já o TikTok vem se mostrando um sucesso, principalmente entre os jovens, e desbancando outras plataformas. O interesse dos jornais em investir e produzir conteúdo específico para a rede reflete isso. O intuito desse movimento, de acordo com o Instituto Reuters, é “se envolver com menores de 25 anos e experimentar a narrativa de vídeo vertical, apesar das preocupações com monetização, segurança de dados e as implicações mais amplas da propriedade chinesa”.
Além disso, o relatório também indica as tendências nas plataformas neste ano. O Facebook, por exemplo, prioriza cada vez menos as notícias na plataforma em detrimento do entretenimento e do comércio. “A curadoria humana do Facebook News já foi retirada, os Instant Articles [artigos instantâneos] devem ser retirados em abril de 2023, e vários dos profissionais recentemente despedidos estavam no Facebook Journalism Project ou na equipe de parcerias de notícias. Poucos ficariam surpresos ao ver a guia Notícias desaparecer completamente nos próximos anos”, coloca o Instituto Reuters.
Outro ponto de destaque traz a regulação das plataformas digitais, pontuando a Lei de Serviços Digitais (DSA) e da Lei de Mercados Digitais (DMA) que “colocará novos limites em torno das atividades das maiores empresas de tecnologia em questões que vão desde conteúdo prejudicial à concorrência desleal”. Também foram elencadas outras legislações que buscam restringir, principalmente em países com regimes autoritários, o que pode ser dito nas redes sociais. Isso é uma grande preocupação para os jornalistas também.
A pesquisa foi realizada com 303 líderes de veículos noticiosos de 53 países, incluindo o Brasil. Mais da metade dos participantes atuavam em organizações com experiência em mídia impressa (53%), cerca de um quarto representava mídia digital (24%), um quinto veio de emissoras comerciais ou de serviço público (20%) e outros 3% vieram de Empresas B2B ou agências de notícias.