Novos surtos de Covid-19 ocorrem por todo o mundo. A epidemia de desinformação sobre o vírus e as vacinas retomam a cada nova onda da doença. Ainda que com uma taxa de mortalidade menor, o Brasil registra um aumento na média diária de óbitos decorrentes da doença. Nos últimos sete dias, a média diária foi de 134 mortes, um crescimento de 33%. As falhas de moderação de conteúdo das plataformas digitais também permitem que as informações falsas sobre o assunto continuem circulando.
Para Leonardo Cazes, chefe de reportagem da agência Aos Fatos, a desinformação sobre a doença persiste nas redes. “Não vejo um crescimento de circulação nem vejo muitas fake news novas aparecendo. O que é importante ressaltar é que houve uma mudança na própria dinâmica da circulação da desinformação”, afirmou Leonardo, apontando a existência de uma migração forte para o Telegram, uma vez que outras plataformas fortaleceram suas políticas de combate às mentiras relacionadas à Covid-19.
O Twitter, sob a direção de Elon Musk, suspendeu sua política de combate à desinformação relacionada à doença. Dados do monitoramento feito pelo Radar Aos Fatos apontaram que tuítes com informações falsas ou enganosas permanecem de forma consistente entre os de maior engajamento sobre o tema.
A análise mostra que a incidência de desinformação sobre o assunto se manteve alta, com aumento sutil após a mudança de política. Nos 15 dias seguintes à mudança de política, 2 a cada 5 publicações (40%) sobre o tema eram falsas ou enganosas.
Os picos de desinformação no período analisado ocorreram em 2, 3 e 8 de dezembro, três datas em que a maior parte (54%) dos tuítes analisados continham informações falsas ou enganosas.
Entre os conteúdos, há publicações que negam ou minimizam a existência da pandemia, repercutindo a fala de um suposto ex-funcionário de laboratório em Wuhan, na China, que alegou que o vírus teria sido criado artificialmente. Na verdade, o homem não trabalhou no laboratório, conforme desmentido pelo Instituto de Tecnologia de Melbourne, da Austrália.
No dia 8, a desinformação foi impulsionada por perfis que usavam argumentos falsos sobre as vacinas contra Covid-19 para atacar o anúncio do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), de que vai priorizar a imunização de crianças.
Consequência é queda da cobertura vacinal
Mesmo que não haja novas fake news sobre Covid que já não tenham sido desmentidas por agências de checagem, as consequências das narrativas desinformativas permanecem, principalmente aquelas que questionam a eficácia e a produção das vacinas.
“A desinformação mais perversa é aquela que coloca dúvida em relação à vacina e semeia dúvida em relação a todos os atores estatais reguladores que estão envolvidos nesse processo, Ministério da Saúde, a Anvisa e as próprias farmacêuticas”, alertou Leonardo, apontando que vivemos uma preocupante queda na cobertura vacinal no Brasil.
O coordenador de reportagem do Aos Fatos acredita que como a maioria das pessoas não sabe como funciona a produção dos imunizantes, pela perspectiva científica, é mais fácil acreditar em desinformação sobre as vacinas.
O Brasil, como outros países, sofre com o fortalecimento dos movimentos “anti vax” (contrários a vacinas). Dados divulgados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que a taxa de vacinação infantil no Brasil vem sofrendo uma queda brusca: a taxa caiu de 93,1% para 71,49% entre 2015 e 2021.
A baixa cobertura vacinal no país deixa a população infantil exposta a doenças como o sarampo, que foi erradicado no país em 2016, e em 2018 voltou para a lista de doenças no Brasil. Outras doenças que correm o risco de voltar a acometer as crianças são a poliomielite, meningite, rubéola e a difteria.
Consórcio de Imprensa segue divulgando dados
Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL (que integra o consórcio de mídia criado no Brasil para divulgar dados sobre a Covid-19), informou que os veículos continuam fazendo o monitoramento dos casos e divulgando os números. Perguntado sobre o que espera do novo governo e futuro Ministério da Saúde, respondeu: “o que esperamos do novo – e de qualquer governo – é clareza, transparência e seriedade no tratamento e disponibilização de dados”.