As polêmicas sobre o Twitter não param desde que o bilionário Elon Musk assumiu o comando da empresa. Como uma forma de protesto, medo da gestão e até de brincadeira, usuários da plataforma estão abrindo contas em redes alternativas ou migrando para elas e deixando para trás a rede do passarinho azul. Nas últimas duas semanas, o Mastodon e o Koo ganharam a preferência de usuários em busca de outras possibilidades.
No dia 18 de novembro, o clima de “fim do twitter” fez com que os brasileiros invadissem a rede indiana Koo. Em 48h foram mais de um milhão de downloads no Brasil, em quatro dias já são mais de 2 milhões. Na Apple Store e no Android PlayStore, duas das maiores lojas de aplicativos, registraram o Koo como app mais baixado no país.
Esse boom fez com que a própria rede mudasse o seu perfil no Twitter de @kooindia para @KooForBrazil e passasse a interagir com os novos seguidores e atender a pedidos dos novos usuários.
Além das brincadeiras com o nome da plataforma, que também tem um passarinho – mas amarelo – como ícone, outro tema pairou sobre o aplicativo Koo: sua segurança e origem. Para Yasmin Curzi, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, a rede é problemática porque surge logo após a suspensão do Twitter na Índia, depois de o governo requisitar remoção de contas específicas de ativistas e personalidade muçulmanas por denunciarem arbitrariedade das autoridades indianas.
“Nesse contexto surgiu o Koo. Para servir de fato como um braço do governo”, opinou Curzi. “O CEO do Koo falou que não tem intenção de moderação de conteúdo na comunidade, que preza pela neutralidade, seja lá o que isso significa, então conteúdos islamofóbicos seguem sendo amplificados”, completou.
“Quando a gente tem uma plataforma que nasce com a intenção de fazer uma prática de ódio a uma classe específica, o problema é maior. É como se a Meta nascesse com a intenção de fazer o genocídio em Mianmar”, comparou Curzi.
Além disso, há sérios problemas de privacidade na plataforma. Em fevereiro de 2021, a India Today noticiou denúncias de vazamento de dados sensíveis de usuários. Outro ponto, acrescenta Curzi, é a vigilância trazida pela rede. “Você tem integrado o número de identificação civil na plataforma como verificação de identidade, então você tem uma vigilância de práticas dos cidadãos indianos absurda. Na política de privacidade da plataforma, a gente tem dados sobre qualquer comunicação que você faça e tudo isso está integrado ao sistema do governo da Índia”.
Entusiasta da rede, o influenciador Felipe Neto publicou sobre uma conversa que teve com o fundador do Koo, que garantiu que a rede não é ligada ao governo indiano:
Mastodon é descentralizada mas pode favorecer bolhas
Outra alternativa ao Twitter e que, para pesquisadores de direito e privacidade é mais segura que o Koo, é a rede Mastodon. A plataforma também teve um boom de usuários nas últimas semanas, mas se caracteriza como uma rede descentralizada, ou seja, não é controlada por uma empresa – ou bilionário. É uma rede gratuita e livre de anúncios que funciona pela atuação de diversos servidores.
Esses servidores atuam como comunidades, por exemplo. Cada conta se vincula a um servidor específico de acordo com seus interesses, mas pode interagir com outros, caso não seja privado. Para Curzi, essa é uma característica positiva da rede, pois impede que o usuário tenha contato com conteúdos maliciosos fora do seu servidor. No entanto, a mesma característica pode aprofundar o distanciamento de outros grupos e alimentar as chamadas bolhas informacionais.
“Se por exemplo seu servidor é queer, LGBT, feminista… você tem um outro servidor que pode ter de cursos homofóbicos e problemáticos. O seu servidor pode até bloquear o outro servidor para que nenhum dos usuários tenha contato com ele, o problema é que a gente perde em comunicação, perde capacidade de interlocução”, explica Curzi.
Apesar disso, os sistemas não são fechados, há capacidade de interações e o usuário pode receber em seu feed conteúdos de outras comunidades. Em relação à moderação do conteúdo no Mastodon, ela é realizada de uma forma “artesanal”, justamente por ser descentralizada e mantida de forma voluntária.