Uma pesquisa investigou de forma qualitativa como as pessoas que não confiam na mídia navegam e consomem informações no ambiente digital. Os pesquisadores do Instituto Reuters buscaram entender como essa audiência – que por vezes é negligenciada em estudos desse tipo – encontra informações online porque descobriram que “esses indivíduos tendiam a ser indiferentes, ou mesmo contrários, à ideia de receber notícias por meio de plataformas”.
O estudo – realizado no Brasil, Índia, Estados Unidos e Reino Unido – entrevistou 100 usuários e obteve informações de como eles navegavam e o que realmente viam nas suas telas enquanto estavam nas plataformas Facebook, Google e WhatsApp, as elencadas para a pesquisa. Assim, preservando a privacidade dos usuários, os pesquisadores conseguiram entender o processo realizado pelos voluntários ao encontrarem uma notícia e avaliarem a credibilidade dela, e esse processo passa por “julgamentos rápidos e instantâneos”.
Os pesquisadores identificaram que esses julgamentos passam por “atalhos mentais” que são cruciais para a avaliação da credibilidade da informação pelo usuário, isso porque muitos, raramente, clicavam nos links para ler a notícia completa ou avaliar a origem do conteúdo. Confira os seis atalhos mentais identificados na pesquisa:
1 – Avaliação da familiaridade ou reputação da marca
A questão mais mencionada pelos voluntários do estudo diz respeito ao reconhecimento da organização de notícias/conteúdo a partir do nome ou logomarca, uma relação que muitas vezes é reforçada ao longo do tempo. “Quando os participantes encontraram notícias de fontes das quais nunca tinham ouvido falar antes, o que aconteceu com frequência para alguns, expressaram uma inclinação para ignorar a informação inteiramente ou automaticamente desconfiar dela”, destaca o estudo. A reputação, no entanto, também pode ser negativa.
2 – Família e amigos
O segundo fator para o rápido julgamento das notícias nas plataformas digitais é a importância de amigos e familiares. “Esses atalhos foram particularmente salientes quando se tratava de notícias no Facebook e WhatsApp, onde a interação social é central para a experiência da plataforma”, aponta a pesquisa. O compartilhamento de informações por pessoas conhecidas tornou aquele conteúdo mais crível, de acordo com o Instituto Reuters, principalmente a partir do grau de proximidade entre essas pessoas.
3 – Atenção à linguagem
O julgamento da credibilidade também passa por fatores textuais. O terceiro fator apontado pela pesquisa é relacionado à linguagem e ao tom empregado nas postagens. Como os usuários veem as notícias nas plataformas, conseguem apenas visualizar o título e um pouco do conteúdo, assim a manchete possui muito peso na decisão se aquilo é ou não confiável. “Esse atalho estava intimamente ligado a preocupações com isca de cliques e sensacionalismo, bem como viés político, que os participantes estavam atentos para detectar, especialmente ao encontrar organizações de notícias específicas sobre as quais mantinham atitudes preexistentes”, explicam os pesquisadores.
4 – Pistas visuais e informativas
Outro fator que os usuários disseram levar em conta são as imagens utilizadas nas matérias e posts e os links que direcionam para o site. Muitos entrevistados reforçaram a influência da foto para acreditar ou não em um conteúdo, alguns destacando que “acreditam no que veem” e que por isso também há muita credibilidade em notícias em tempo real. Além disso, outros usuários apontaram que a escolha da foto também traz confiança quando não são imagens sensacionalistas ou genéricas, e sim que mostram que o repórter está no local.
As URLs também foram apontadas como fatores de credibilidade, posts que não possuíam link para o site original eram vistos com mais desconfiança. Por fim, uma última pista informativa apontada pelos entrevistados diz respeito aos dados e informações contidas nas matérias:
“Muitos disseram que analisavam se os artigos apresentavam números, números ou dados como evidência, mesmo que não tivessem certeza de onde essa informação estava vindo. Veronica (40, EUA), por exemplo, descreveu um site que ela estava avaliando, mas não tinha certeza sobre: ‘parece muito científico com os números e todas as descobertas e outras coisas’, o que a deixou mais inclinada a pensar que ‘poderia ser um site confiável’.”
5 – Publicidade
Os entrevistados destacaram que se um conteúdo era patrocinado, era menos confiável. “As postagens patrocinadas eram frequentemente abordadas como intrinsecamente suspeitas, uma vez que eram vistas como orientadas para o lucro, em vez de apresentadas por sua confiabilidade ou relevância”, definiu o estudo.
6 – Dicas das plataformas
As funcionalidades das plataformas também apareceram como um ponto importante na formação da avaliação do que é ou não confiável para os usuários. No Facebook e WhatsApp, os fatores sociais foram importantes, por meio de curtidas e comentários no Facebook ou de quem compartilhava o conteúdo no WhatsApp, trazendo confiança ou não para aquele conteúdo.
Já no Google, o estudo indicou que a ordem de classificação dos resultados na pesquisa foi importante para essa avaliação. Outro ponto relevante mencionado pelos usuários foi em relação à possibilidade de comparação do conteúdo na pesquisa que o Google fornece, “o que proporciona uma maior sensação de controle e confiança, pois se sentiam capazes de “equilibrar” várias fontes e tomar suas próprias decisões”.
“Esses pontos lançam luz sobre certos aspectos que tornam o consumo de informações em cada plataforma único de maneira que pode ser significativo para a confiança e desconfiança nas notícias que os usuários lá encontram. Além disso, esses insights também ressaltam até que ponto as decisões de design da plataforma podem ter consequências tangíveis – intencionais ou não – sobre quantas pessoas navegam no ambiente de informações digitais”, analisaram os pesquisadores.