Quem aqui nunca mandou ou teve vontade de mandar aquele nude para o (a) contatinho quando o clima da sedução está esquentando? Ainda mais agora que o Carnaval foi (meio que) cancelado, o troca-troca digital tem tudo pra bombar.
O hábito de “mandar nudes” ficou mundialmente conhecido nessa primeira década do milênio, mas desde que nos conhecemos por gente que o voyeurismo, ou a prática de observar outras pessoas nuas e sentir prazer com isso, é bastante praticado. A Internet ressignificou essa prática, mas a ideia continua sendo a mesma: sentir-se bem com o próprio corpo, criar conexão com a outra pessoa e permitir-se viver uma experiência prazerosa.
Até aí, tudo ok! Mas a Internet não está isenta dos abusos que podem ocorrer a partir desta exposição. Estamos de acordo que as tecnologias digitais possibilitam o fácil compartilhamento de qualquer conteúdo. Mas e quando aquele registro sensual vai parar em mãos erradas, o que fazer? Ou ainda, como se proteger de abusos como o _ revenge porn _(pornografia de vingança) ou possíveis vazamentos e falsificação de dados, como tem ocorrido em chats online como WhatsApp ou até mesmo em sites e aplicativos de namoro?
As Corretoras de Encontros: a exploração dos dados pessoais em aplicativos de paquera
Em 2017, a artista barcelonesa Joana Moll criou a The Dating Brokers (ou As Corretoras de Encontros), uma obra que aponta a exposição, comercialização e os “fake-bodys” de dados pessoais em sites de namoro.
Com apenas 136 euros, a artista comprou um milhão de perfis da USDate, empresa sediada nos EUA que comercializa perfis a partir de sites de paquera. O lote comprado incluía fotografias (cerca de 5 milhões), nomes de usuário entre outros dados pessoais detalhados como e-mail, nacionalidade, idade, características pessoais, profissão, gênero e orientação sexual.
A iniciativa de Moll conseguiu expor uma rede de empresas que comercializam estes dados sem o consentimento expresso dos seus usuários. Ou seja, enquanto o usuário buscava uma paquera num aplicativo de encontros, os seus dados eram compartilhados sem o seu devido consentimento para finalidades desconhecidas. Normalmente, para desinformar e enganar um amante apaixonado em algum lugar do mundo. Pronto: seu corpo virou um perfil falso em algum site de namoro.
O objetivo desta obra de arte foi questionar o modelo de negócio adotado por essas empresas e debater questões éticas, morais e legais sobre a prática da comercialização desses dados. Já imaginou se aquele nude ou suas informações íntimas caíssem na mão de um impostor para tirar vantagens de outras pessoas?
“Manda Nudes!”, mas passe também uma boa grana para eu não te denunciar!
Os golpes na Internet só aumentam a cada dia. Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, só no ano de 2020 houve um aumento de 198,1% dos golpes na Internet, com registros de mais de 12 mil casos de fraudes naquele estado. Já o Serasa Experian aponta que a cada 8 segundos, um brasileiro sofre uma tentativa de fraude. E um dos casos mais recentes, envolvendo imagens de nudez e desinformação, ficou conhecido como Sextortion ou “golpe dos nudes”!
A ação criminosa consiste na criação de um perfil falso no Facebook que se passa por uma mulher atraente em busca de homens na faixa dos 30 a 50 anos. À medida que essa pessoa troca informações e gera intimidade com as vítimas, ela solicita troca de fotos íntimas. Quando os pedidos são cedidos e as imagens compartilhadas, o golpista muda o discurso, passando-se por uma jovem menor de idade. E é nesse momento que entra um terceiro personagem, se passando pelo pai da criança, que faz ameaças às vítimas dizendo que irão denunciá-los por pedofilia. Por medo de serem expostos, os homens cedem a chantagens e pagam pelo silêncio do seu crime.
Os casos foram acompanhados pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos (DRCI) e pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais do Rio Grande do Sul. Mas casos como esses continuam crescendo em todo o país.
Um guia para mandar seus nudes com segurança
Foi pensando nessa segurança e na falta de conhecimento sobre este assunto que a organização de direitos digitais formada por mulheres, a Coding Rights, criou o Guia Sensual de Segurança Digital(2016). O guia fala sobre conteúdos de nudez e busca advertir os usuários, principalmente mulheres e pessoas trans, sobre os potenciais perigos relacionados ao vazamento de dados ou exposição dos conteúdos sem o seu consentimento.
O Guia Sensual apresenta ainda boas práticas para proteger as usuárias dos abusos da exposição, como técnicas de anonimização, uso de canais seguros para compartilhar os nudes e ainda lista os cuidados que se deve ter ao expor conteúdos de nudez nas redes sociais, além de oferecer dicas para uso de senhas fortes e pastas criptografadas.
Manda nudes! 🍒😈 Mas com segurança 😉
#este conteúdo foi produzido por Ricardo Ruiz, pesquisador e colaborador do Instituto Procomum