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Agência Brasil

jan 28, 2022 | Destaques, Notícias

A saga (e as consequências) da desinformação sobre vacina infantil contra Covid-19 no Brasil

Agência Brasil
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No dia 6 de janeiro, o presidente da República Jair Bolsonaro atacou a vacina infantil para Covid-19 e acusou a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de ter interesses por trás da aprovação da vacina da Pfizer, um dia após o governo anunciar o cronograma de imunização infantil.

Na primeira quinzena de janeiro, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, fez uma postagem no Twitter dizendo que “vacinar crianças é um verdadeiro infanticídio”.

No dia 21 de janeiro, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica em que rejeita a eficácia da vacina contra a covid-19, mas atribuindo eficiência ao medicamento hidroxicloroquina.

Ontem, 27 de janeiro, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos produziu uma nota técnica em que se opõe ao passaporte vacinal e à obrigatoriedade de vacinação de crianças contra a Covid. Além disso, disponibilizou o Disque 100, o principal canal do governo para denúncias de violações dos direitos humanos, à disposição de pessoas antivacinas que passem por “discriminação”.

Essa linha do tempo deste começo de 2022 dá uma ideia da transformação de um assunto de saúde pública em debate político polarizado e desinformativo. Sem esquecer que, no final do ano passado, o Ministério retardou o início da vacinação infantil, cogitando uma receita médica, apesar de o imunizante já ter sido aprovado pela Anvisa.

O resultado é um aumento dos medos e dúvidas sobre a eficácia do imunizante. “Acho que vou esperar mais um pouco porque esta vacina é experimental”. “Fizeram o teste em nós e agora estão querendo colocar as crianças nesta situação”. “Todas estas doses obrigatórias é para aumentar o lucro dos laboratórios”. “Criança não morre de Covid”. Estes são alguns argumentos que podem ser vistos nas redes sociais, pelas ruas do Brasil e também nos grupos de whatsapp de mães e pais da escola.

Após mais de uma semana do início da campanha de vacinação na Grande Belo Horizonte, nem metade do público-alvo já convocado compareceu aos locais de imunização.  No município do Rio foram vacinadas 46.916 crianças até agora, o que corresponde a apenas 8,3% do público-alvo, segundo a prefeitura. Em Manaus que, há um ano viu o colapso do sistema de saúde com explosão de casos de Covid-19, a vacinação infantil enfrenta falta de imunizantes e a falta de informações confiáveis para os pais e responsáveis.

 

Polarização nas redes sociais

A polarização se refletiu nas redes sociais. De acordo com um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas  (FGV), nas duas primeiras semanas de janeiro mais de 705,3 mil postagens no Twitter fizeram referência à vacinação infantil.

De todos os perfis analisados, 48,71% eram de usuários favoráveis à vacinação infantil. Este público é composto principalmente por ativistas políticos, influenciadores digitais e canais de mídia alternativa que fazem oposição ao governo federal.

Já os contrários à imunização de crianças somaram 30,9% dos perfis analisados. A maioria deles, pertencente a políticos de direita e blogueiros e canais de mídia alternativa conservadores.

Um outro levantamento feito pelo Radar Aos Fatos mostrou que publicações com alegações enganosas sobre a vacinação infantil contra a Covid-19 alcançaram 618 mil interações no Facebook desde que foi autorizado o uso do imunizante da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos no Brasil, no dia 16 de dezembro. Desse total, ao menos 454,5 mil curtidas e compartilhamentos foram de posts desinformativos publicados por políticos contrários à imunização desse público. O principal argumento utilizado é o de que a vacina seria experimental.

Entre os dez perfis que publicaram alegações enganosas sobre a imunização com mais engajamento, seis são de políticos bolsonaristas. Com 14 posts falsos ou enganosos, eles mobilizaram 454,5 mil curtidas e compartilhamentos sobre o tema – 73% das interações dos posts desinformativos, conforme o levantamento do Radar Aos Fatos.

A OMS, médicos, pediatras e maiores autoridades de saúde mundiais já se manifestaram pela segurança da vacina infantil contra Covid-19 e especialmente da importância de se proteger os pequenos contra as novas cepas da doença. Há pelo menos 18 vacinas obrigatórias que crianças já tomam no Brasil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, sancionado em 1990 pelo então presidente Fernando Collor, estabelece que “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou parecer favorável enviado à Anvisa sobre a vacinação de 5 a 11 anos com o imunizante da Pfizer.

 

 

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