Verificar, verificar, verificar. Prática que está na veia de todo o jornalista e que deveria ser essencial na publicação de toda e qualquer informação. Mas se as mídias sociais nos ensinaram uma coisa é que a velocidade no compartilhamento e transmissão de notícias tornou relativo o apreço à veracidade de uma informação.
Começamos 2021 cercados por fake news sobre o coronavírus e as campanhas de vacinação. Você sabia que as vacinas contêm microchips? Que elas alteram o seu DNA? Que elas que estão causando as novas variantes da doença? Estas foram apenas algumas teorias de conspiração sobre as vacinas contra a COVID-19, facilmente desmascaradas, e, infelizmente, facilmente espalhadas pelas redes sociais, de usuário a usuário.
Enquanto jornalistas são ensinados no primeiro dia de faculdade que a verdade é a base da profissão e que verificar toda e qualquer informação é essencial, o mesmo não pode ser dito pelas milhares de pessoas que também têm voz nas múltiplas plataformas digitais. Sempre desejamos participar em nossas plataformas favoritas, começando com cartas, escrevendo nossa própria fanfiction e comentando em fóruns. Queremos ser ouvidos, queremos nos sentir incluídos e, com a internet e seus fóruns digitais, seções de comentários, blogs, redes sociais e a incrível capacidade de publicar qualquer conteúdo gratuitamente, o Conteúdo Gerado pelos Usuários – vide eu, você, nós, todo mundo lá fora – está em alta.
Então, o que pode parecer bobagem para aqueles do meio jornalístico, é super necessário e precisamos repetir insistentemente: Verifique! Verifique! Verifique tudo o que você publica e compartilha online! Isto não é parte do senso comum de todos os usuários de redes sociais. Tanto é que o combate à desinformação se tornou tão essencial quanto o combate ao próprio vírus durante a pandemia.
Falar sobre melhores práticas quando se trata de qualquer conteúdo compartilhado online deve se tornar parte do ensino básico, pois “você (eu, todo mundo) pode ajudar a quebrar as cadeias de notícias falsas!”. O passo a passo de publicar uma informação agora tem de ser ensinado a todos. Um processo trabalhoso, e por isso tão facilmente ignorado, que limita inclusive o uso por jornalistas do conteúdo que vem do público.
Existe todo um procedimento jornalístico de checar informação, se ela realmente existe. Processo que, afinal, dá trabalho, né? É o que os artigos de Conteúdo Gerado pelo Usuário geralmente tratam, e que parecem batidos, mas que a desinformação mostra de novo e de novo que não: que é o processo de verificação, da questão ética de como usar um conteúdo, ou por que não usar.
Passei os últimos três anos estudando conteúdo gerado pelo usuário, e, em parceria com outros colegas, embarquei no nebuloso mundo da desinformação na América Latina. Então quando digo que literacia sobre informação e o processo de verificação é essencial, não é da boca pra fora.
Em um artigo, tentamos entender como os veículos latino-americanos estão explorando o Conteúdo Gerado pelo Usuário em reportagens e propusemos um estudo exploratório que inclui uma observação planejada de 80 sites de notícias e seus canais de rede social entre abril e agosto de 2020. Durante esse período, conduzimos uma observação sistemática para analisar como esses veículos abrem espaços para o público e experimentam integrar o conteúdo do usuário em seus processos de notícias. Nossos resultados mostram que a maioria dos portais observados adotou CGU pontualmente com envolvimento mínimo, e, enquanto a pandemia promoveu experimentos interessantes sobre a integração de CGU na criação de notícias, ainda é raro ver o uso sistemático de conteúdo gerado pelo usuário como forma de contar histórias no jornalismo. Um dos motivos: a verificação é um processo árduo, e extremamente essencial com o conteúdo que surge de fora da redação jornalística.
Em outro trabalho, COVID-19 fake news diffusion across Latin America, exploramos as iniciativas de verificação de fatos na América Latina e entendemos como a checagem de fatos verifica uma infinidade de alegações e continua sendo uma solução promissora para combater as notícias falsas. A disseminação de rumores, boatos e teorias da conspiração online é evidente em tempos de crise, quando notícias falsas se espalham pelas plataformas, aumentando o medo e a confusão entre a população, como visto na pandemia da COVID-19.
Estes trabalhos, e mais de uma década estudando jornalismo, me mostraram que o básico das melhores práticas é: Sempre fique atento ao tipo de conteúdo, questione se o site de origem é confiável, verifique as fontes citadas (há alguma outra fonte de notícias relatando a mesma coisa? Quantas fontes a história cita?), verifique a data da notícia (alguns veículos de notícias republicam postagens antigas ou promovem notícias antigas como histórias atuais), e recorra aos especialistas (acesse sites de fontes oficiais e meios de comunicação reputáveis).
A desinformação é chata, insistente, e, por isso, demanda que a gente se muna de paciência e ajude a pontificar estas melhores práticas do compartilhamento de informações online. Afinal, sempre há uma nova teoria de conspiração esperando para ser espalhada. Com o que parecia ser o fim da pandemia, as teorias e as fake news se viraram para o aquecimento global e as mudanças climáticas (seria tudo uma conspiração dos governos para nos enganar?); mas logo que emergiu a variante Ômicron do coronavírus e a pandemia voltou ao foco, surgiram novas ondas de desinformação que fazem combater o vírus parecer fichinha. Você sabia que essa nova variante foi criada exatamente para a pandemia não acabar (mentira!)? Que é espalhada pela vacina (suuuuuper mentira!).
Verifique, verifique, verifique. Definitivamente não acredite em tudo que lê por aí.