Na última semana meu filho de 8 anos me jurou de pés juntos que o Godzilla é sim um bicho típico da fauna japonesa e que um amigo havia confirmado essa informação na internet.
Numa outra ocasião, ele me pediu para comprar uma pista de carrinho que disse ter visto numa propaganda e, pelo modo como me contou, parecia que o carrinho, na tal pista, dava um duplo twist carpado, caía na boca de um tubarão que, imediatamente, começava a tocar a icônica trilha do filme do Spielberg.
Aproveitamos o gancho e conversamos sobre propaganda enganosa; dei textão sobre publicidade infantil, fake news e desinformação. Conversamos sobre não poder acreditar em tudo que se vê na internet e, por fim, eu estava cansada de tentar encontrar a linguagem mais adequada para tratar deste assunto. Considerando a idade do ouvinte, tive dúvida se meu discurso chegou até ele e quase senti saudades da Enciclopédia Barsa, fonte de pesquisa dos estudantes ali na década de 80.
Confesso ser recente o meu interesse pelo tema da educação digital e a intimidade que venho adquirindo com ele veio a partir do trabalho no *desinformante e, principalmente, a partir da mais revolucionária das forças, a maternidade.
Ocupo esse espaço para falar sobre a minha experiência. Ficarei devendo dados científicos, resultados de pesquisas e citações que contenham as expressões Educação Digital ou Alfabetização Midiática. E eu sei que tem muita gente que há muito tempo se dedica ao estudo deste tema. Dias destes li um texto da professora Januária Cristina Alves que está, desde a década de 80, pesquisando sobre a importância, a necessidade e a urgência do que ela chamou de Literacia para as Mídias.
E apesar de todos os esforços empreendidos, ainda me sinto um pouco perdida quando o desafio educacional bate aqui na minha porta.
Nossas crianças são nativas digitais, elas nasceram e estão crescendo com as tecnologias presentes em suas vidas. Mas é preciso compreender o abismo existente entre ter o controle técnico das mídias e ter uma formação que propicie uma leitura crítica das informações acessadas.
Incluir o ensino midiático no ambiente escolar não é só proporcionar acesso a computador. A inclusão deve vir acompanhada de uma formação para cidadania, de conversas que levem as crianças a compreenderem conceitos de empatia e autoestima, de percepção de contexto digital, de habilidades para o uso seguro da internet.
É necessário preparar terreno para que as crianças desenvolvam habilidades socioemocionais e o solo mais fértil para esse aprendizado é o convívio com outras pessoas.
É provável que você já tenha ouvido aquele provérbio africano que diz ser necessária uma aldeia inteira para educar uma criança.
Cuidar da infância é pacto coletivo e nós podemos combinar aqui e agora de dar novo sentido àquela expressão que diz que ´Mateus deve ser embalado por quem o pariu´. Isso aí nada mais é que uma metáfora pra te dizer que tu te tornas eternamente responsável pelos impostos do MEI que constituis.
Talvez esse texto não seja apenas sobre educação midiática. Esse texto diz também sobre carga, ou melhor dizendo, sobrecarga materna. E não, novamente eu não irei apresentar dados que justifiquem o motivo de ter colocado a carga na maternidade e não na parentalidade porque, neste momento, deixei meu filho com uma amiga para terminar esse trabalho sem ter que ser interrompida a cada 5 palavras digitadas.
Embora há muito se venha discutindo sobre a importância da educação midiática para a infância e adolescência, não são muitas as ações concretas. Falo de mim e falo ao lado de mulheres que para conseguirem fazer aquela reunião no zoom ou terminarem aquele relatório, liberam o tempo de acesso à internet para seus filhos e que, ao final do dia, também se sentem cansadas e em dúvida sobre como explicar sobre a manipulação daquele vídeo em que um novo dinossauro foi avistado no Vale do Me Ajuda Deus.
Com alguns lampejos de inocente otimismo, na maior parte do tempo, só acredito que propostas concretas e mais democráticas surgirão quando as crianças forem tratadas como uma responsabilidade da aldeia. Até lá, quem pariu Mateus, continuará com o braço latejando de o embalar.