Após a Polícia Federal finalizar as investigações da tentativa de golpe de Estado orquestrado por integrantes do governo Bolsonaro, a notícia ganhou repercussão nos debates das redes sociais. Como apontou o mapeamento realizado pelo Instituto Democracia em Xeque (DX), usuários de extrema-direita argumentaram que a operação seria um produto midiático utilizado para perseguir Jair Bolsonaro e aliados. Apesar disso, o campo progressista dominou a produção e circulação de conteúdos sobre o tema, repudiando tentativa de anistia.
Nos perfis conservadores, a operação da PF foi descrita como confusa, contraditória e irregular, sendo utilizada para perseguir Bolsonaro e aliados. O deputado federal Nikolas Ferreira e o influenciador Luiz Camargo foram algumas das contas que compartilharam essa narrativa.
“Segundo essa perspectiva, há questionamentos sobre a legalidade e imparcialidade da condução da operação, e alegações de que os fatos apresentados pela mídia seriam inconsistentes, reforçando a tese de uma conspiração para incriminar o ex-presidente e figuras da direita”, trouxe o relatório.
“Não há crime ao pensar em matar” também ganhou força nos últimos dias em perfis conservadores, os quais afirmaram que a não execução do plano não configuraria crime. “Esse argumento busca deslegitimar as ações da Justiça e das forças de segurança, insinuando que estão extrapolando suas competências ao tratar de intenções ou planos que não se materializaram”, escreveu o DX.
Uma das principais figuras a levantar o argumento foi o senador Flávio Bolsonaro que, em seu perfil no X, escreveu: “Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido.” As deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis também endossaram a fala do senador.
Além disso, os áudios compartilhados pelo Fantástico também foram tirados do contexto em vídeos publicados no TikTok para afirmar que Bolsonaro era inocente no caso investigado. Um vídeo manipulado com Inteligência Artificial trouxe o ex-presidente afirmando estar arrependido da tentativa de golpe.
Ainda segundo o relatório do DX, apesar do golpe ter sido tema de discussão entre usuários de extrema-direita, o campo progressista dominou a produção e circulação de conteúdos sobre o tema, atribuindo a responsabilidade ao Governo Bolsonaro e repudiando qualquer possibilidade de anistia.
O relatório coletou 1.001 postagens no Facebook, Instagram, YouTube, X e TikTok entre 15 a 21 de novembro. Além disso, foi realizado uma “escuta social” em redes abertas com a coleta de 665 mil publicações, representando 4,7 milhões de interações.
Extrema-direita buscou diminuir impacto de atentado ao STF
Uma semana antes da notícia do golpe vir à público, no dia 13 de novembro, o Supremo Tribunal Federal foi alvo de um atentado orquestrado pelo bolsonarista Francisco Wanderley Luiz, conhecido como Tio França. Nas redes, também de acordo com o levantamento realizado pelo DX, a extrema-direita buscou desassociar o episódio ao bolsonarismo, tentando categorizá-lo como ato isolado e suicida. Os perfis utilizaram o fato para reforçar suas narrativas de que o STF estaria ultrapassando seus limites, e agiria com ainda mais autoritarismo.
Em relação a primeira narrativa, perfis conservadores argumentaram que o sistema estaria tentando imputar a responsabilidade do atentado a Bolsonaro e ao bolsonarismo, mas sustentaram que o autor do ataque não estaria alinhado a esse movimento, apesar de sua filiação ao PL.
“Essa linha narrativa tenta minimizar a conexão entre o terrorista e o bolsonarismo, reforçando a ideia de que ele agiu de forma independente e desvinculada do movimento conservador”, afirmou o relatório.
Outra linha narrativa buscou defender que o autor do episódio seria um “lobo solitário” que teria agido de forma impulsiva e instável, com o objetivo não de atacar à Suprema Corte, mas cometer suicídio.