O número de pedidos de verificação de informações enviados às agências de checagem, durante as eleições deste ano, foi menor do que o esperado. É o que concluiu um relatório divulgado por seis agências de checagem em parceria com a organização Meedan. Fizeram parte da colaboração os seguintes projetos: Comprova, Aos Fatos, Estadão Verifica, AFP, Lupa e Uol Confere.
Ao todo, entre os dias 6 de agosto e 27 de outubro, as agências receberam 2.389 envios do público para verificar potenciais peças desinformativas sobre candidatos e a integridade do processo eleitoral. Esse número, de acordo com o relatório, permaneceu similar aos meses anteriores da campanha, indicando que o receio de uma “avalanche de desinformação”, que é de costume em momentos eleitorais, não se concretizou este ano.
O documento aponta que a quantidade de pedidos de verificação mais baixa do que o esperado pode estar relacionada a uma crescente apatia ou descrença no processo eleitoral e nas instituições democráticas.
Mesmo assim, o número recebido ainda é substancial e aponta temas e tendências das peças desinformativas durante as últimas eleições. Segundo o relatório, o principal tópico dos pedidos de verificação eram sobre a integridade do processo eleitoral (44,6% de todos os envios de sugestão). Desse montante, 49,4% focaram especificamente nas urnas eletrônicas.
“Isso demonstra a persistência de um cenário já observado nas eleições anteriores, com narrativas que questionam a segurança e o funcionamento das urnas dominando o cenário da desinformação”, trouxe o relatório. Tópicos factuais e confusão sobre legislação eleitoral também foram alguns dos principais temas identificados pelas organizações.
Outro ponto foi o uso crescente de temas morais vinculados com questões religiosas para polarizar o debate. Dos envios sobre questões morais, 16% tratava da sexualização precoce de crianças, 14% sobre identidade de gênero e 11% sobre aborto. Além disso, a polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro continuou frequente durante essas eleições – 48 peças de conteúdos enviados pelo público destacavam essa divisão.
“Diante desse cenário, é fundamental destacar o papel do jornalismo e da checagem de fatos como pilares da democracia”, concluiu o relatório. “Se as narrativas desinformantes continuam as mesmas há dois anos e se a participação dos eleitores está caindo nas grandes cidades brasileiras, o fortalecimento do acesso a conteúdos checados e de qualidade se mostra indispensável para recobrar a confiança da população nos processos democráticos e na política.”