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Duas semanas com o X de volta: rede segue palco da extrema direita e da desinformação

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Há duas semanas, os brasileiros voltaram a ter acesso ao X (antigo Twitter), após o Supremo Tribunal Federal (STF) desbloquear a rede social no país. De lá para cá, pouca coisa mudou: a plataforma continua sendo palco de desinformação e espaço para figuras da extrema direita nacionais e internacionais espalharem livremente teorias da conspiração e discursos radicais.

Logo nos primeiros dias de desbloqueio, a plataforma de Elon Musk teve uma onda de fake news contra as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro como mostrou um levantamento realizado pelo Instituto Democracia em Xeque. De acordo com o mapeamento, que identificou mais de 32 mil publicações, as postagens na plataforma insinuaram uma suposta fraude na apuração da eleição municipal de São Paulo após o candidato Pablo Marçal (PRTB) perder o lugar do segundo turno para Guilherme Boulos (PSOL) por uma diferença de 56,8 mil votos.

As postagens insinuaram que as eleições tinham sido fraudadas para impedir a ascensão de Marçal e afirmaram que as urnas eletrônicas eram vulneráveis a fraudes e que o voto impresso seria necessário nas eleições presidenciais de 2026. O estudo também pontuou que as desinformações sobre o processo eleitoral foram ampliadas pelo X, já que plataformas como Instagram e Facebook demonstraram uma abordagem mais rígida em relação à moderação de conteúdos falsos.

Já no dia 9 de outubro, o vereador mais votado no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), aproveitou a volta da rede para compartilhar mentiras sobre a crise climática, insinuando que o aquecimento global é uma farsa e criticando organizações que lutam para combater os impactos negativos do fenômeno.

“Em função dessa picaretagem disfarçada de bom-mocismo, protocolamos projetos e requerimentos de informações de combate ao ESG [sigla em inglês para Governança ambiental, social e corporativa] e às ONGs defensoras dessa porcaria”, escreveu Bolsonaro na postagem que somou mais de 118 mil visualizações na primeira semana.

O político carioca de extrema-direita também compartilhou um vídeo sobre a emergência climática em que o narrador sugere que o aquecimento global é falso, citando uma teoria conspiratório de que o “alvoroço por conta do clima da Terra” seria parte de um método usado por grupos econômicos para mudar o comportamento da população mundial.

ANPD pedirá explicações ao X sobre coleta de dados para treinar IA

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) anunciou nesta semana que entrará em contato com os representantes do X para pedir explicações sobre a coleta de dados dos usuários para o treinamento de sistemas de Inteligência Artificial.

Na semana passada, sem muito alarde, o X atualizou as políticas de privacidade para tornar obrigatória a coleta de dados dos usuários da plataforma para o treinamento de sistemas de Inteligência Artificial. De acordo com o texto, a partir do dia 15 de novembro deste ano os usuários que continuarem usando os produtos e serviços da empresa estarão concordando com os novos termos. 

Isso significa que, caso o usuário não concorde com a extração de dados, o único jeito de ser opor é deixando de usar a rede social. À Folha, Ronaldo Lemos, diretor do Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS-Rio), explicou que tal decisão elimina o direito do usuário de se opor ao uso dos dados garantido pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e respaldado pelo direito fundamental à proteção de dados.

Nos EUA, êxodo de usuários após atualização para contas bloqueadas

“Em breve, lançaremos uma mudança em como a função de bloqueio funciona”, anunciou no último dia 16 a conta de engenharia do X. A novidade divulgada pela plataforma é que perfis bloqueados poderão ver as postagens de usuários que os bloquearam – mas não poderão interagir. A atualização, segundo a empresa, trará mais transparência, mas especialistas temem que ela possa trazer brechas para que perfis abusadores continuem em contato.

“Obviamente, isso serve a um propósito muito mais importante para pessoas mais vulneráveis ​​ou sensíveis, e é difícil não ver esse movimento como Elon Musk exigindo que elas sejam expostas a abusos e maus-tratos”, afirmou o jornalista James O’Brien para o The New York Times.

Com as mudanças, parte dos usuários norte-americanos começaram a migrar para plataformas concorrentes. O Bluesky, por exemplo, bateu recordes de engajamento e chegou a ser um dos cinco aplicativos mais baixados na App Store nos Estados Unidos.

No país, a plataforma está no centro de campanhas desinformativas que buscam questionar o processo eleitoral norte-americano. Elon Musk também tem sido um importante cabo eleitoral do republicado Donald Trump, que concorre nas eleições presidenciais deste ano, apoiando pautas conservadoras. Nesta semana, o bilionário prometeu doar um milhão de dólares por dia para pessoas que assinarem uma petição sobre liberdade de expressão e ao porte de armas.

Na Europa, plataforma admite irrelevância em negócios

O X reconheceu que não se enquadra como uma plataforma relevante na intermediação entre negócios e consumidores. Tal afirmação dada aos reguladores europeus foi feita para que a empresa não precise cumprir as regras de regulação de mercados impostas pela Lei de Mercados Digitais da União Europeia (o DMA, na sigla em inglês).

Após investigações, o bloco econômico concluiu que o X, apesar de ter estrutura para ser um ator importante nos negócios digitais, “não é uma via importante para que usuários comerciais alcancem os usuários finais”.

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