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jul 18, 2024 | Destaques, Notícias

Mesmo com queda, ataques online contra jornalistas se mantêm constantes em 2023

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Apesar de apresentar uma leve queda em comparação aos outros anos, a violência online contra jornalistas se manteve constante ao longo de 2023 em relação ao número de casos gerais de violência mapeados pela Associação Brasileira de Jornalistas Investigativos (ABRAJI). Foi o que concluiu o relatório “Violência online: a internet como arena de ataques contra jornalistas” publicado neste mês pela organização.

No ano passado, 52,1% dos casos de violência registrados pela associação aconteceram ou se desdobraram no ambiente digital. Em 2022, o número era de 63,4% e em 2021 de 62,5%. “Mesmo com a queda na série histórica, a importância da internet na dinâmica de ataques está mais do que consolidada, já que sua presença nunca esteve abaixo de 50% dos episódios coletados”, trouxe o relatório.

Reprodução Abraji

O principal tipo de ataque sofrido pelos profissionais no ambiente digital é a agressão verbal, 85,9% dos 156 casos registrados nessa categoria em 2023 ocorreram no ambiente on-line. Essa estratégia busca publicar discursos estigmatizantes, proferidos com o intuito de descredibilizar e silenciar o trabalho dos profissionais.

Ataques de restrição na Internet, como os DDoS – que buscam derrubar páginas na Internet –, hackeamentos e phishing – técnicas de fraude para roubar dados pessoais – também são algumas das estratégias realizadas pelos agressores.

O recorte de violência de gênero contra as profissionais da comunicação também foi destaque no monitoramento. Em 2023, 65,6% dos episódios envolvendo questões de gênero tiveram origem ou repercussão na Internet. Em 2022, o número era de 60% e em 2021, 71,4%. 

Esse resultado, de acordo com o relatório, “reforça que a violência misógina, homofóbica, transfóbica ou que de alguma forma se vale de um ataque à identidade de gênero e à sexualidade, encontra no ambiente digital um meio propício a sua disseminação”.

Um dos casos emblemáticos aconteceu com a jornalista Daniela Lima, âncora do canal Globonews e ex-CNN, que teve um vídeo manipulado e suas falas distorcidas para parecer que defendia a proibição de certos trechos da Bíblia. A peça desinformativa serviu de ensejo para ataques vindos de perfis nas redes sociais, incluindo figuras políticas como o senador Magno Malta (PL-ES).

Reprodução Abraji

Novos ataques em 2024

Apesar do relatório focar no mapeamento de 2023, o documento aponta que novos ataques já estão acontecendo neste ano em meio às preparações para as eleições municipais que ocorrem em outubro. Em maio, a jornalista Natuza Nery, também da Globonews, foi alvo de ataques proferidos pelo pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, em vídeos publicados na rede do empresário. 

Nery havia comentado ao vivo informações falsas proferidas por Marçal durante as enchentes do Rio Grande do Sul. O influenciador dirigiu ofensas à jornalista, chamando-a de “menininha” e “incompetente”, além de ameçar processos contra ela e a rede Globo. 

A colunista e diretora da Abraji, Juliana Dal Piva, também sofreu investidas recentes na Internet. A profissional teve prints falsos divulgados pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que tentou usar da desinformação para descredibilizar o trabalho de Dal Piva e argumentar censura e perseguição por parte da imprensa. O influenciador também divulgou os perfis da jornalista, incentivando seus seguidores a atacarem.

Ataques partem de agentes públicos e políticos

Outro ponto levantado pela Abraji foi a origem dos ataques aos jornalistas, que vêm, em sua maioria, de agentes estatais, funcionários públicos ou políticos com mandatos eletivos – como acontece também com os casos de agressões gerais. Levando essa informação em consideração, o estudo mapeou as postagens feitas na rede social X (antigo Twitter) por todos os parlamentares eleitos para o Congresso Nacional e pelos ministros de Estados inicialmente indicados pelo governo Lula.

Entre os parlamentares, o estudo encontrou 13 perfis responsáveis por um terço de tudo o que os congressistas publicaram sobre a imprensa na rede social. Desse grupo, os senadores Magno Malta (PL-ES), Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Filipe Barros (PL-PR) se destacaram pois pelo menos 50% das suas publicações citando a imprensa eram ataques a jornalistas e veículos de comunicação.

O monitoramento de ataques a jornalistas é realizado pela Abraji desde 2013  como forma de contribuir para a compreensão e o combate ao quadro de violência contra jornalistas, comunicadores e meios de comunicação no país. Desde 2019 o trabalho mantém parceria com a rede Voces del Sur (VdS).

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