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Lena Benz

maio 20, 2024 | Destaques, Notícias

Quais as estratégias do discurso racista nas redes sociais?

Lena Benz
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Quarto relatório do Observatório do Racismo nas Redes desvenda as estratégias do discurso racista nas redes sociais. Foram identificadas quatro estratégias principais com objetivos de: desumanizar, desqualificar, invisibilizar e desinformar sobre as pessoas que são alvos dos ataques desta natureza nas plataformas digitais. O Observatório é um projeto do Aláfia Lab que visa ampliar a capacidade de monitoramento e combate a conteúdo racista publicado em redes sociais digitais.

“Continuamos encarando a dificuldade que é sistematizar parâmetros analíticos para desvelar as dinâmicas de ofensas, ataques e discursos racistas nas redes sociais digitais”, afirma Rodrigo Carreiro, que junto com Ellen Guerra, Maria Paula Almada e Nina Santos são os responsáveis pela pesquisa.

Com este relatório, o objetivo foi analisar de que modo o léxico racista expressa as dimensões do racismo em tipos diferentes de estratégia. “Essas ações refletem não só modos de pensar da nossa sociedade, mas uma faceta cruel que impõem a pessoas negras constantes e diversificados ataques raciais”, diz o estudo. Foram analisados 2.989 postagens e 214.448 comentários, entre 1 de outubro de 2023 e 29 de fevereiro de 2024, em 37 perfis de personalidades negras no Instagram e Youtube.

A DESINFORMAÇÃO aparece como uma das estratégias para deslegitimar movimentos antirracistas e se apoia em estratégias de engajamento nas redes sociais.

A desinformação, aliada a fenômenos como o discurso de ódio, aprofunda as violências contra grupos racializados, expõe o relatório. Em publicação feita pela escritora e professora Djamila Ribeiro sobre o período pós-escravidão e a falta de políticas de reparação, o espaço de comentários se tornou arena de desinformação sobre o assunto.

 A ideia principal era de que os negros escravizaram os negros e, portanto, não deveria existir mecanismos sociais reparadores. “Esse é um dos principais argumentos utilizados para deslegitimar os movimentos antirracistas e desqualificar as lutas das populações negras. Esse discurso alimenta um ciclo de desinformação e preconceito”.

Em publicação sobre o mesmo tema, a influenciadora Transpreta responde justamente a essa questão e aponta fatos históricos que desmistificam o argumento de que “pretos escravizaram pretos”. A partir disso, embora o post tenha rendido inúmeras mensagens de apoio, apenas um comentário contrário desdenhando da informação histórica foi capaz de abrir uma grande discussão a respeito do tema, com 27 respostas.

“Isso ajuda a entender mais nitidamente a dinâmica de propagação de desinformação, que não precisa de muitos argumentos para prosperar, muito menos ter volume. É como uma isca que abre espaço para muitos argumentos sólidos e convergentes, mas que, de um modo ou de outro, atrai também atenção para aquilo que põe em xeque a informação verdadeira”, analisam os pesquisadores.

O relatório acrescenta que para a lógica de funcionamento do Instagram, não interessa se o conteúdo é verdadeiro ou não; importa, sobretudo, a capacidade de geração de conversação – e isto a desinformação já provou que consegue.

As outras três estratégias identificadas pelo Observatório de Racismo nas Redes são:

DESUMANIZAR

Os ataques racistas a Vini Jr se tornaram diversificados e persistentes: 91% das postagens em sua conta no Instagram foram alvo de ataques racistas no período de outubro de 2023 a fevereiro de 2024. Os agressores usam uma variedade de emojis e gifs de macacos para contornar a moderação da plataforma, buscando desumanizar o jogador. Nos dois primeiros meses de 2024, os comentários contendo ataques racistas no Instagram de Vini Jr receberam 2.402 curtidas.

DESQUALIFICAR

A cultura negra e suas vertentes têm sido alvo de discursos que visam desqualificar essas experiências. Identificamos ofensas dessa natureza em direção a Lázaro Ramos, na época do lançamento do filme “Ó Paí Ó 2”, com comentários pejorativos indicando boicote à obra por questões políticas. As agressões se estendem a postagens de Rene Silva sobre cultura negra e favelas, e à jornalista Flávia Oliveira, alvo de ataques religiosos após um comentário na Globo News.

INVISIBILIZAR

A tentativa de invisibilização da pauta é perceptível toda vez que algum caso de racismo é denunciado pelos perfis monitorados, principalmente quando ganha repercussão nacional. A tática mais utilizada para esconder a discussão racial é a de acusar os outros de vitimismo e definir pejorativamente essas pessoas como militantes. No período de análise, identificamos que esse expediente foi vastamente utilizado no caso do motoboy gaúcho Everton Silva. Ele sofreu um ataque de faca por um homem branco durante uma entrega e, ao denunciar o incidente à polícia, foi levado na parte traseira do carro policial, enquanto o agressor foi transportado dentro da viatura.

Leia abaixo o relatório completo:

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