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Qual é o cenário?

set 10, 2021 | Qual é o cenário

Desinformação tem incentivos e impactos econômicos

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Existe uma circulação orgânica de desinformação e ela precisa ser combatida, mas o fato é que há também grandes campanhas de desinformação, muitas vezes bancadas por interesses políticos ou econômicos. Existem diversos exemplos de como fake news foram usadas para ganhar dinheiro levando tráfego a determinados sites ou a determinados conteúdos, como vídeos do Youtube. Existe toda uma indústria que se move com a monetização de informações falsas – que acaba também beneficiando economicamente as próprias plataformas. Talvez o caso mais famoso disso seja o de jovens da Macedônia que criaram fake news pró-Trump durante as eleições de 2016 para ganhar dinheiro com os clicks.

Temos também diversos casos em território brasileiro. O relatório Ciência Contaminada, por exemplo, mostrou como os médicos criaram um novo modelo de negócio no Youtube durante a pandemia de Coronavírus. Eles usavam vídeos na rede para vender cursos, e-books e suplementos alimentares que melhorariam a imunidade das pessoas, deixando-as livres do coronavírus. Junto com isso, ignoravam as recomendações oficiais de distanciamento social e apresentavam a questão da imunidade como uma solução suficiente.

Já em relação às motivações políticas, há uma grande diversidade de interesses. Muito se fala sobre o uso de informações falsas em eleições, o que certamente é uma grande ameaça democrática. Nós também já destacamos que os atores políticos têm uma responsabilidade grande sobre a disseminação de fake news. Um ponto pouco debatido, no entanto, é como essas notícias falsas afetam a produção de políticas públicas.

Os exemplos são vários, mas podemos lembrar, por exemplo, da campanha de desinformação contra o chamado “Kit Gay” que era, na verdade, um material de conscientização contra a homofobia que sequer foi distribuído. Ela teve um impacto enorme na formulação de políticas públicas. Inúmeros são os projetos de lei que, desde 2011, quando o “Kit Gay” foi vetado pelo governo, tentam controlar os conteúdos disseminados em ambientes escolares e o comportamento dos professores sobre temas considerados sensíveis. Ou seja, houve impacto importante nas pautas consideradas no legislativo, sem falar no dinheiro público que havia sido investido na produção do material que não foi utilizado. Uma campanha desinformativa contra uma política pública – o Brasil sem homofobia – que não apenas resultou no seu desmantelamento, mas também em processos legislativos contrários a ela.

Exemplo marcante

A fake news de que cloroquina seria efetiva no tratamento contra o Coronavírus não gerou apenas usos individuais inadequados e resistência às medidas de isolamento social. Como revelado pela agência A Pública, quase 3 milhões de comprimidos de cloroquina foram distribuídos pelo território nacional e o Exército brasileiro gastou R$ 1,5 milhão sem licitação para produzir a droga. Já o Governo Federal teria investido diretamente R$90 milhões nos medicamentos que compunham o chamado “tratamento precoce”, também sem eficácia comprovada. Ou seja, os efeitos da desinformação podem se tornar muito concretos e inclusive se materializar em políticas e investimentos públicos.

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