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Pontos de vista

Viena Filmes

1o turno das eleições 2024: o que a internet provocou?

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Os resultados do primeiro turno das eleições de 2024 levantam uma vez mais a questão sobre o impacto da comunicação digital no resultado das urnas. Longe de ser uma pergunta nova, essa indagação já está presente há pelo menos uma década e a verdade é que quem trabalha na área não aguenta mais ouvir, a cada eleição, se essa será “a eleição das redes sociais”.

Pois bem, me parece que o primeiro turno das eleições paulistanas são um caso emblemático para pensarmos no impacto de diferentes tipos de comunicação. De um lado, temos um candidato que, sem nunca ter exercido um cargo público antes e, sem um segundo sequer de tempo no horário gratuito de propaganda eleitoral, conseguiu conquistar 28% dos votos. Conhecido por sua atuação como coach e influenciador digital, Pablo Marçal parece ser um exemplo bem característico do impacto que o uso de estratégias digitais pode ter. É fato que, ainda que não tivesse tempo de propaganda na TV, Marçal se apropriou dos debates para aumentar sua visibilidade e conseguiu pautar a cobertura jornalística muitas vezes. A maior parte da sua comunicação, contudo, sem dúvida nenhuma, esteve centrada no ambiente digital.

Se, por um lado, foi uma apropriação peculiar do ambiente digital que permitiu a Marçal esse crescimento exponencial, por outro, a presença ostensiva de Ricardo Nunes no horário gratuito de propaganda na televisão e na rádio foi um dos motivos pelos quais Marçal ficou fora do 2o turno. Foi a partir do início do horário eleitoral que Nunes conseguiu recuperar espaço nas pesquisas de intenção de voto e consolidar sua posição no segundo turno.

Portanto, parece fazer sentido pensar que “a eleição das redes sociais” já chegou há algum tempo, mas que ela não vem para substituir a televisão, mas sim para interagir com ela. Analisar esses dois espaços como separados e antagônicos faz pouco sentido e não explica a complexidade da comunicação hoje.

O vácuo de comunicação nas últimas 48h cria espaço para desinformação

Outro elemento que chamou atenção foi a tentativa de Pablo Marçal de disseminar uma fake news contra Guilherme Boulos nas últimas horas antes do dia da votação. Essa estratégia repete um fenômeno que já havíamos visto em 2022: quando se suspende o horário eleitoral e proibe-se a propaganda política – inclusive a digital – cria-se um vácuo de comunicação que abre espaço para tentativas de circulação de conteúdos falsos. Evidentemente a regra de suspensão de publicidade visa evitar que a cidadã e o cidadão sofram influências indevidas de última hora, mas o fato é que na realidade comunicacional atual em que se multiplicaram os emissores de informação, ela acaba tendo efeitos colaterais.

Fica claro que o fato de o espaço comunicacional estar ocupado por informações de qualidade é uma forma bastante eficiente de combater a circulação de informações deturpadas. No vácuo, torna-se muito mais fácil disseminar mentiras.

Uso de IA

Um último elemento que certamente merece nossa atenção sobre a questão da comunicação neste primeiro turno é o uso de inteligência artificial. Anunciada como possível caos, essa tecnologia ainda aparece pontualmente e em usos um tanto diferentes dos antecipados. Mas, disso falaremos em breve aqui no Desinformante. Fiquem de olho!

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Nina Santos

Coordenadora Geral do *desinformante.

Pesquisadora na UFBA e na Université Paris II. Diretora do Aláfia Lab. Doutora em comunicação e interessada pela disseminação de (des)informação nas plataformas digitais e seus impactos políticos.

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