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Viena Filmes

jul 1, 2024 | Pontos de Vista

Aprendendo a colocar o design a serviço da informação

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Viena Filmes
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Escrever para mim é um processo longo e contínuo. Parto de mil pensamentos que me rodeiam dias, semanas, meses e até mesmo anos, conforme sou diária e incessantemente exposta a conteúdos que vou absorvendo e deglutindo, lembrando e esquecendo, em partes maiores e menores, até que consiga parar e dar os primeiro passos rumo à organização das ideias.

Hoje completo dois anos de atuação no *desinformante e aproveito a data para organizar e tratar aqui de ideias e pitacos que estão presentes cotidianamente no meu trabalho neste projeto, o qual cabotinamente defendo como incrível!  Fazer parte de uma equipe de jornalismo especializado no universo da desinformação, que se articula com diversas organizações da sociedade civil, e pesquisadores especializados no tema, me colocou diante de um mar de informações complexas, pensamentos e visões discutidas diariamente que acabaram por alimentar uma trama de temas para entender e desenvolver que vão ficando guardadas em alguns lugares da caixola. Até que chega uma hora que é imprescindível fazer os primeiros movimentos para colocá-los pra fora. No Ponto de Vista de hoje, procuro realizar esse exercício, tratando de como o design pode servir de ferramenta à informação, a partir da experiência vivida nesse tempo aqui. 

Enquanto no *desinformante primamos pela informação confiável sobre desinformação, também pude compreender, ao longo desse tempo, como o design serve ao ecossistema informacional, o que, lamentavelmente, também inclui a dimensão imagética e discursiva da desinformação em suas diferentes formas de apresentação, indo “do meme ao caos” num piscar de olhos.

Sem dúvida, nesses dois anos, a palavra mais ouvida e escrita em todo material produzido nos mais diversos formatos (imagem, texto, audiovisual e sonoro), conversas trocadas e reuniões realizadas foi desinformação. Seja em caixa alta ou baixa e nas hashtags dos conteúdos que preparamos. Só no Instagram, temos atualmente 1.450 publicações

Entre matérias e notícias mais breves no site, temos 1.304 textos publicados, dos quais 827 abordam o tema, gerando uma navegação de 42 páginas de resultados no painel de controle do nosso gestor de conteúdo (CMS). Ainda no site, temos algumas páginas especiais com jornalismo sobre inteligência artificial, eleições e regulação de plataformas, e a série Panorama, entrevistas realizadas com especialistas que buscam traçar as perspectivas daquele ano para o universo da desinformação. Fechando a conta, 268 vídeos no YouTube divididos entre Papo desinformante, Desinformante Explica, programas pontuais e shorts.

Quando olho para esses números fico não apenas impressionada com a alta produtividade da equipe, mas também constato como o design contribui sobremaneira com a produção, circulação e consumo de informação no mundo de hoje. É o que chamamos de infografia e, no contexto contemporâneo da internet das coisas, já não vivemos sem ela. 

Por definição, infografia é a representação visual de informações, dados ou conhecimentos específicos, trabalhada de forma a apresentar conteúdos complexos de maneira clara e rápida. Podemos combinar elementos como ícones, diagramas, gráficos, mapas, ilustrações e textos curtos com o objetivo de facilitar a compreensão da informação, promovendo uma comunicação eficaz de dados e ideias. 

Através desses recursos, conseguimos tornar o conteúdo mais palpável e até mesmo palatável, facilitando o acesso, o uso, a consulta e o entendimento dos dados. É isso que buscamos fazer quando, por exemplo, bolamos um carrossel para as redes sociais, criamos uma linha do tempo para ajudar a entender algum assunto ou trabalhamos as inserções em nossos vídeos.

Outro ponto para o qual me parece relevante levantar a lebre do design é em relação ao seu papel complementar junto à lógica dos algoritmos. Numa sociedade atravessada por sistemas de comunicação e informação tão complexos, e onde a circulação de informações é cada vez mais mediada pelas plataformas digitais, o design une-se à lógica dos algoritmos para definir quais dados circulam mais, com maior ou menor ênfase e como eles aparecerão diante dos rolos infinitos de cada ser conectado no planeta. 

Definitivamente o poder dos algoritmos é inconteste e digno de muito estudo crítico. Entretanto, sejam eles de “destruição em massa” ou não, o fato é que sem a camada do design nada poderia ser feito. Nesse ponto, falo do design num sentido amplo, ou porque não dizer, expandido. Uma expansão que vai muito além da estética, dando abrangência à sua usabilidade e funcionalidade em complementação aos sistemas de recomendação algorítmica.

Entendo assim, que o design age como uma camada de captação das informações necessárias à atuação dos algoritmos, afinal, para que os dados sejam reunidos, precisamos clicar, curtir, seguir, compartilhar, assistir novamente, entre outras ações que vão, pouco a pouco, formando a base que será utilizada pelos profissionais da programação. E como seria possível alcançar tudo isso sem que o design de interação nos coloque diante de ícones, links, menus e interfaces em geral?

Indo um pouco mais adiante na organização das ideias que pipocaram ao longo desses dois anos, há uma preocupação com o uso do design aliado às ferramentas de produção de conteúdos disponíveis na internet atualmente e que são facilmente operáveis tanto por profissionais da área quanto por leigos. 

Soluções prontas, grátis e repetitivas 

É interessante notar que obedecendo à lógica da complementação algorítmica, essas ferramentas costumam oferecer soluções imediatas de infografia e templates absolutamente idênticos a materiais jornalísticos profissionais, desde newsletters até sites, provocando ao mesmo tempo a facilitação do trabalho, mas também sua vulgarização. Se, por um lado, ganhamos tempo com elas, por outro, nos tornamos absurdamente produtivos para o bem e para o mal, entregando mais e não parando de entregar. Ainda mais grave, acabamos sujeitos a um dos principais focos de desinformação: a emulação de notícias, uma vez que fazer parecer o que não é fica facílimo a partir do uso dessas ferramentas.

Diante de todas essas questões ainda consigo driblar as preocupações pensando em como é bom poder usar o design como ferramenta para um jornalismo de qualidade. Melhor ainda, sabendo que o foco é levar informação confiável sobre desinformação no ambiente digital. No rastro dessa causa desejo que o design nos seja útil e eficaz na jornada.

Dedico o texto de hoje aos meus colegas do “chão de fábrica” por tornarem possível dar forma à causa com a qual nos comprometemos, com algum estresse, mas sobretudo muito amor, todos os dias. Valeu chãozeira!

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Lena Benz

Produtora Editorial e jornalista, com doutorado em Comunicação e Cultura. Trabalha com design on e offline e já lecionou na área. Tem interesse pelo papel preponderante do design na cultura digital. É coordenadora de design do *desinformante.

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