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Marcelo Harassen, Unsplash

set 28, 2021 | notícias

Pesquisa da UFRJ aponta propagação de fake news em grupos religiosos no whatsapp

Marcelo Harassen, Unsplash
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Religião e notícias falsas estão intimamente emaranhadas no mundo de hoje de várias formas. Com a pandemia, grupos religiosos se viram obrigados a adotar o uso de aplicativos de mensagens para troca de informações, uma vez que as igrejas ficaram fechadas. Porém o intenso uso de grupos de WhatsApp por evangélicos, por exemplo, acabou por expor esse segmento a um maior contato com conteúdo desinformativo, é o que apontou o estudo publicado pelo Grupo de Estudos sobre Desigualdades na Educação e na Saúde (Gedes) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O relatório fez uso de questionários online com 560 respostas e também entrevistas em grupos com 125 pessoas no Rio de Janeiro e Recife para chegar a dados do comportamento desse grupo no WhatsApp. Quase a metade dos entrevistados (49%) apontou ter recebido conteúdo falso ou enganoso em alguns de seus grupos religiosos. A pesquisa também identificou que 29,7% já compartilharam notícias falsas, mesmo sabendo que o conteúdo era falso, pois concordavam com a abordagem ou relevância do tema. Entre os tópicos mais encontrados nesses grupos de WhatsApp estavam conteúdo falso relacionado à política e religião.

O estudo também identificou que pessoas com maior escolaridade e renda não necessariamente compartilham menos conteúdo falso ou enganoso. Porém, esse grupo checa mais notícias e tem habilidade para identificar se recebe ou não desinformação. 13,2% dos entrevistados acreditam que os pastores e “irmãos” são a fonte mais confiável de notícias. 

Grupos de WhatsApp de grupos religiosos expõe fiéis a desinformação. Fonte: Rodrigo Clix do Pexels.

Segundo o pesquisador Alexandre Brasil Fonseca, a escolha desse público para o estudo se deve ao fato de que grupos religiosos “têm maior organicidade, ou seja, maior contato e maior confiança interpessoal”. Fonseca lembrou que, durante as eleições de 2018, muitas pesquisas e reportagens apontaram que sites para o segmento evangélico foram grandes propagadores de desinformação.

O pesquisador também apontou que os evangélicos têm uma estratégia histórica de fazer uso dos meios de comunicação, como a TV e o rádio, para angariar fiéis. De acordo com o Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), realizado em 2018 pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), 31% da população brasileira se declara evangélica atualmente. 

Vacina é um dos focos do discurso religioso

O mau uso das informações por lideranças religiosas têm sido um desafio no combate à pandemia do novo coronavírus. A resistência à vacina tem sido associada às notícias falsas e teorias conspiratórias disseminadas por grupos religiosos. 

Cresce resistência à vacina devido a desinformação religiosa. Fonte: Pavel Danilyuk do Pexels.

Em um artigo publicado na revista Media Asia, os pesquisadores Rubal Kanozia e Ritu Arya citaram vários casos de fake news que foram disseminadas na Índia, Paquistão e Bangladesh levando a um aumento de resistência à vacina. Por exemplo, alegações falsas em grupos religiosos muçulmanos apontavam que no desenvolvimento de vacinas eram usados vestígios de carne de porco. Nas comunidades hindus, essas alegações foram alteradas para vestígios de carne de vaca. A carne destes animais não faz parte das dietas desses grupos por questões religiosas. 

Kanozia e Arya reforçaram que, nesses países, alguns líderes religiosos proíbem seus seguidores de serem vacinados, alegando que a prática vai contra suas crenças. Isso mostra a necessidade de iniciativas focadas em grupos religiosos para diminuir o efeito da desinformação, em especial durante a pandemia. 

Lançado em 2019, o projeto Coletivo Bereia faz checagem de informações de cunho religioso com o objetivo de mitigar as fake news nesse segmento. Porém, como Kanozia e Arya lembraram no artigo, será necessário um esforço coletivo, envolvendo governos, legisladores, pesquisadores, mídia, líderes religiosos, verificadores de fatos e os próprios cidadãos para diminuir os efeitos da desinformação em grupos religiosos.

 

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