O Brazil Forum UK é um evento anual, organizado desde 2016 de forma voluntária por estudantes brasileiros no Reino Unido e com objetivo de discutir temas que impulsionem mudanças positivas no Brasil. O fórum é realizado, tradicionalmente, na Universidade de Oxford e/ou na London School of Economics and Political Science (LSE). Uma das mesas da edição 2024 discutiu o impacto da Inteligência Artificial na vida dos brasileiros. O debate contou com a presença da coordenadora geral do *desinformante e diretora do Aláfia Lab, Nina Santos, do presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, do sênior fellow da Fundação Mozilla, Tarcízio Silva e da diretora de Políticas Públicas do Google, Juliana Moura Bueno.  

O ministro Barroso iniciou as falas apontando benefícios e problemas da IA. De um lado, a tecnologia pode atuar em atividades repetitivas e dar escala a ações humanas. Na medicina crescem as pesquisas sobre leitura de exames e diagnósticos a partir do uso de IA. Bem como benefícios para educação, cultura e lazer.

Sobre os riscos, o ministro pontuou os impactos no mercado de trabalho, com a perda de empregos menos especializados o que na sua opinião vai exigir intervenção protetiva. O uso bélico e de massificação da desinformação com as deepfakews, além de problemas como a violação de privacidade, perpetuação das discriminações sociais e problemas com direitos autorais.

A coordenadora do *desinformante, Nina Santos, trouxe a necessidade de se atrelar o debate da IA a outros já em curso na sociedade, como a regulação das plataformas digitais, o combate à desinformação e ao discurso de ódio.

“A discussão do digital parece etérea, mas tem efeitos muito concretos no dia a dia”. Para Nina, é preciso pensar a questão da informação como questão da democracia, do exercício da plena cidadania.

Já Tarcízio Silva levantou os problemas da opacidade dos algoritmos e da mineração de dados no Sul Global para serem usados em benefício do Norte Global, repetindo o processo de colonização.

Provocada sobre os problemas apresentados na IA do Google, a Gemini, que retirou as ferramentas de geração de imagens após episódios de alucinação, Juliana Bueno disse que a empresa trabalha com equipes de direitos humanos para balizar o desenvolvimento das suas ferramentas.

Mesmo assim, o Google admitiu os erros da Gemini e retirou funcionalidades para serem melhoradas.

Ministro Barroso fala sobre regulação da IA

O ministro Barroso acredita que a IA poderá ser de grande utilidade no Judiciário brasileiro, que recebe cerca de 70 mil por processos por ano. Além de resumos dos processos e separação por temas, o ministro acredita que a IA poderá ser usada para emitir decisões judiciais com a supervisão final de um juiz humano, que poderá ratificar ou não a decisão. “Tenho expectativa de que a IA possa derrubar os preconceitos humanos”, afirmou.

Sobre mecanismos de regulação da IA, o ministro esboçou um exemplo do que ele considera um modelo adequado. Para Barroso, os direitos fundamentais precisam estar assegurados e também a proteção à democracia. Por fim deve haver uma governança que traga transparência aos processos com supervisão humana.

“Como regular é a grande dificuldade. O conceito de desinformação é difícil de lidar. Mas as plataformas precisam ter o dever de cuidado, o empenho em agir sobre conteúdos objetivamente falsos”.

Para o ministro, o mundo democrático vive esta fronteira e desafio de como realizar a regulação digital e preservar a liberdade de expressão.